lobo e lua

lobo e lua

28.4.08

Notas de falecimentos



Patty Moon
REPÓRTER ESPECIAL

Pois é, moçada! Além desse engenheiro aí, lamentamos informar a morte do valente macaco-prego Chico, semana passada, em Araxá. Chico foi protagonista de um dos casos jurídicos mais interessantes dos últimos tempos. Morador da Mata do Ipê, em Uberaba, foi preso e julgado, sob alegação de que teria agredido visitantes. Ou seja, gente chata.

Condenado, foi mandado para uma reserva em Araxá, onde vivia desde janeiro. Segundo sua tratadora, Chico estava até engordando ultimamente. Mas, vai ver que morreu disso mesmo. Sem muita coisa pra fazer, já que morava numa área restrita, Chico só viu prazer em comer. Aparentemente, foi um ataque cardíaco. O que geralmente acontece com quem come muito e tem vida sedentária. A morte de Chico mereceu até manchete de primeira página no Jornal de Uberaba, único órgão de imprensa, além do Jornal da Lua, que sempre se posicionou ao lado do macaco-prego.

Chico representou a luta das espécies ameaçadas de extinção por uma raça que se julga dona do Planeta Terra. A mesma raça que pega uma menina de cinco anos e joga pela janela do sexto andar, como se fosse um saco de lixo. Nós, do Jornal da Lua, perguntamos: somos mesmo superiores?



22.4.08

Estrada do Mato Alto


Chico PF
(Francisco Paula Freitas)


Caía a tardinha, lá vinham os dois. Às vezes de ônibus, quase sempre de bonde. Ele, empertigado em sua magreza, chapéu na cabeça, gravata com laço grande e bem folgada ao pescoço, sentado, a bengala entre as pernas, de vez em quando cruzava as mãos sobre o seu castão e apoiava o queixo pontudo.

O menino lia em silêncio os cartazes do veículo e vez por outrafazia uma pergunta que o velho respondia escondendo um meio sorriso, achando graça e gostando da curiosidade esperta do neto.

Chegavam. Na porta da vila, antes de entrar, ele se voltava à igrejinha que ficava logo ali, no final da elevação da rua, tirava o chapéu, encostava-o ao peito e balbuciava umas palavras a Deus, que o menino, embora não entendendo o que significavam, respeitava silenciosamente. Nesses momentos, o garoto olhava para o avô e percebia, em seus olhos, lágrimas, que vinham da comunicação entre eles, ambos deuses.

Cumprindo o ritual, entravam na vila e, uns quarenta passos depois, estavam em sua casa. O velho balbuciava novas palavras incompreensíveis ao quadro do Cristo pregado no alto da parede, em frente à entrada, tirava o paletó e mantinha a gravata afrouxada. Fazia umas graças aos presentes e, em seguida, sentava para a sua pequena refeição.

A filha mais velha, que ansiosa os aguardava, beijava-o, despedia-se dele, dos irmãos e da mãe, pegava o seu menino que acabara de chegar e iam embora. Isto era uma rotina. Mas esta era uma outra história.

Naquele dia, já eram quase oito horas da noite e ainda estavam na rua. No bonde aceso e barulhento, que, com a luz amarela, iluminava a rua larga e escura por onde passava, iam o avô e seu neto pelo sertão carioca.

Na zona rural, as ruas mal iluminadas ajudavam a lua cheia a flutuar bem baixo, quase ao alcance da mão. Apesar do verão, o veículo aberto, em ligeiro movimento, dava frescor e tornava a viagem agradável. Menino e velho iam em silêncio. Nas curvas que fazia — viajavam no reboque — o bonde, volta e meia, deixava entrever a lua. O que para o avô era poesia, encantamento, uma lembrança talvez, para o menino era uma novidade. Sair de noite. Que bonito era o luar na roça, como podia ser grande a lua!

O episódio ficou gravado na memória do menino, pois a aventura não era comum. Na rua ainda àquelas horas! A claridade do luar iluminando os amplos capinzais entre as casas espaçadas, uma aqui, outra ali, que no sertão era assim, o bonde, serpenteando devagar, a mão amiga, segura e morna do avô em sua mão, eram coisas que iriam ser de difícil esquecimento. No dia em que aprendeu o significado da palavra esplendor, lembrou-se daquele momento.

O menino, agora pai e homem maduro, visita o primo. Conversam, falam da infância, do passado e bebem. Entre umas e outras, o primo diz:

— Sabe aquele retrato do nosso avô, que ficava na sala de jantar? Está comigo.
A despeito de já se terem ido mais de trinta anos, não era difícil provocar a memória. Havia de fato, entre outros, um retrato do avô pintado a óleo por um consagrado pintor alemão da primeira metade do século passado, que vivera na região serrana. O quadro era de alto valor artístico. Além disso, valia um bom dinheiro.

A tela é trazida à sala. Estava sem a moldura original, que o cupim dera cabo. Ambos, em silêncio, olham o quadro que acostumaram-se a ver quando meninos. Ali estava o rosto de um homem moço, que teria de envelhecer para se tornar o avô do menino que ainda iria nascer, conhecê-lo e amá-lo.

Mas lá no retrato já estava definido o perfil que o acompanhou até o fim da vida: o grande nariz de Dante, romano, adunco, e o queixo pontudo, um tanto prógnata, comum aos bruxos.

O primo, de supetão, diz:

— Leve, é seu. Ele gostava mais de você.

Era verdade e ambos sabiam disso. Aceitou em silêncio e, mais emocionados, beberam mais. Saiu feliz com a tela e lembrou que deveria homenagear o avô. Uma boa e adequada moldura deveria completar o retrato e ele trataria logo de encomendá-la.

Quis o destino que um dia, ao voltar para casa, passasse, por acaso, naquela rua do sertão carioca que, por mais incrível que possa parecer, sem grandes transformações, está praticamente igual à em que, de bonde,viajou com o avô, na linda, fresca e inesquecível noite de luar. Continuam lá os matagais entre as casas espaçadas, uma aqui, outra mais adiante. A lua está lá, brilha reluzente e derrama prata sobre o capim-navalha.

O que há tempos foi menino vai conduzindo o automóvel em direção à sua casa. Relembra e reconstitui a antiga viagem. Já não existe mais o bonde, o frescor daquela antiga noite é substituído pelo ar-condicionado do carro. Não consegue conter a emoção quando, em um repente, lembra que o velho avô viaja com ele.

Não passa agora de um retrato embrulhado no porta-malas.

Do livro "Café e Bar Ponto Chic"- Editora Bertrand Brasil

14.4.08

Malandro perde a virgindade no Acaba Mundo

Francisco Freitas
COLUNISTA ANTI-SOCIAL

A reportagem do Jornal da Lua conseguiu entrevistar, com exclusividade, um sujeito que preferiu não se identificar, mas que perdeu a virgindade no Aglomerado Acaba Mundo.

Ele foi confundido com um dos integrantes de uma gangue rival, quando ia visitar a tia no Acaba Mundo. Sem direito de defesa, foi agarrado por dois capangas do bando do Caolho, que o arrastaram para um barraco.

- Passei o maió sufoco lá! Us caras entraro cumigo num barraco e tava lá um tal de Marcão, um negão vesgo, du tamanho de um guarda-rôpa, limpando as unha cum um facão inferrujado. Um deles falô:

- Marcão, o chefe mandô ocê istrupá esse cara aí, que é pra ele aprendê a não se metê a valente cum nosso pessoal.

- Pode deixar ele aí no cantinho, que eu cuido dele daqui a pouco.

Quando os caras sairam, o coitado tentou levar um papo com Marcão:

- Ô Marcão, faz isso cumigo não, amigo, sinão a minha vida vai se acabá...

- Cala a boca e fica quieto aí!

Pouco depois, mais dois homens entraram arrastando outro cara:

- Esse aí o chefe mandô ocê cortá as duas mão e furá us zôio, qui é pra ele aprendê a não tocá no dinhêro du bando.

- Deixa ele aí, que eu já resolvo.

Daí a pouco, chegou outro pobre coitado:

- Marcão, esse o chefe qué que ocê corte o bilau e a língua, pra ele não si metê cum mais ninhuma muié da favela!

- Já resolvo isso. Bota ele ali no cantinho junto cum os outros.

Foi quando nosso entrevistado, que assistia a tudo morrendo de medo, disse em voz baixa:

- Seu Marcão, com todo respeito, só pru sinhô num se confundí: quem vai sê istrupado aqui sô eu, tá?

E que lição tiramos dessa trágica reportagem, caros leitores?

NÃO RECLAME SE A SITUAÇÃO ESTÁ RUIM: SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM EM SITUAÇÃO MUITO PIOR !!!

10.4.08

Bazar do Chupeta foi o maior sucesso

Gudesteu Hostalácio
ENVIADO ESPECIAL

Nunca se viu nada igual na história dos bazares e leilões no Brasil. O Bazar do Chupeta, carinhoso apelido do megatraficante colombiano Juan Carlos Abadia, previsto inicialmente para durar até o próximo domingo, terminou em apenas dois dias.

No primeiro dia, na terça, mais de 5 mil pessoas fizeram filas nas portas do Jockey Club de São Paulo. Venderam até as cuecas do Chupeta. Na quarta, o povão não entrou, pois o leilão foi apenas pro high society paulistano.

Entre os destaques, mais de 200 pares de sapatos, roupas de ginástica e equipamentos, DVDs, bicicletas, roupa de cama, móveis, roupas masculinas e femininas, óculos e eletrodomésticos - só TVs de plasma foram mais de 20.

A reportagem do Jornal da Lua, sempre presente aos grandes acontecimentos, registrou que a maior procura foi por papelotes de cocaína.

- Quanto é que tá o papelote aí, chefia?

Esta era a pergunta mais repetida na terça-feira. Um dos guardas, já irritado com a mesma pergunta, respondeu:

- Eu já disse mil vezes que aqui a gente não vende droga!!!

- Como não vende? O cara não vendia coca? Cadê a coca? Me ajuda aí, xará, só um papelote!

- Eu já avisei: aqui não tem droga!!

- Tem droga, sim! Daqui eu posso ver uma coleção de discos de Zecão e Zecãozinho! Como não tem droga? Mas eu quero é UM papelote! Só UM!

Nossa reportagem constatou que foi realmente difícil conter a multidão de consumidores em busca dos valiosos bens de Chupeta. Toda a renda será destinada a duas entidades filantrópicas de São Paulo: Fundação Julita, que atende crianças e idosos do Jardim São Luís, Zona Sul da Capital, e a Ten Yad, que diariamente alimenta mais de 2100 pessoas pela cidade.

No entanto, diversos grupos gritavam slogans e portavam cartazes na porta do Jockey Club, exigindo que a grana seja mais dividida. Lá estavam, por exemplo, representantes de hospitais. Do Rio, pedindo grana pra combater a dengue. De Belo Horizonte, da Santa Casa, pedindo grana pra consertar uma máquina de radioterapia, estragada há quase um mês, e ninguém faz nada. Enquanto isso, os doentes morrem de tanto esperar, ou de raiva.

O certo é que Chupeta ficou apenas com a roupa do corpo, mas sem cueca, que também foi vendida no bazar. O comprador da cueca de Chupeta, que pagou 1 real, ficou desapontado:

- Pensei que fosse encontrar algum dólar escondido na cueca!

- Você é um bocó! Quem guarda dólar na cueca é assessor de político!

Os itens mais caros foram leiloados na quarta-feira. Na lista, um Ford Rural Willys e um Jeep Overland, uma geladeira importada, vários relógios Rolex, Cartier (um avaliado em R$ 50 mil), Chanel, Piaget, Bulgari, um Franck Muller de US$ 190 mil e um Audemars Piguet de US$ 219 mil, canetas especiais e bicicletas novas.

Mas, na quarta, o povão foi proibido de entrar no Jockey. Inclusive a reportagem do Jornal da Lua!

7.4.08

O menor conto de fadas do mundo

VERSÃO FEMININA

Era uma vez uma moça que pediu a um lindo garoto:

- Você quer se casar comigo?

Ele respondeu:

- NÃO!

E a moça viveu feliz para sempre! Fez compras, foi ao salão dar uma mudada no visual, conheceu muitos outros garotos, visitou muitos lugares, foi paquerada por onde passou, mudou pra praia, comprou carros, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava grana, bebia vinho e champagne com as amigas e ninguém mandava nela.

O rapaz ficou com uma barriga do tamanho do mundo, varizes, os cabelos cairam, os dentes apodreceram e ele acabou banguela, careca e sozinho.

FIM

(Valeu, Teresaaaaaaaaaaaaa!!!)

1.4.08

Primeiro aniversário




DEIXEM O SOM LIGADO!!!!!!!

Bem, aqui estamos. Um ano de Jornal da Lua. E como este blog começou? Em novembro de 2006, meu velho amigo Cadinho RoCo lançou o seu blog. Foi uma surpresa para mim. Quando ele me disse, o blog já estava no ar. Meses antes, eu tinha levado outro velho amigo de minha família, o jornalista Symphrônio Veiga, até a casa do Cadinho.

Há anos, Cadinho distribuía folhetos, feitos em casa, com crônicas, poesias e reflexões, por vários lugares de Belo Horizonte, onde moramos. Eu sabia que o velho Sym tinha um blog num site daqui e minha idéia era que Cadinho alcançasse um público muito maior, através da internet.

Sym Veiga colocou Cadinho em contato com o administrador do site, que logo viu que seu material era bom. Dias depois, ele já estava com seu blog no site. Foi lá que ele conheceu uma brasileira que morava na Inglaterra. E ela, fã de seus textos, fez o blog exclusivo dele.

Blog no ar, de vez em quando o Cadinho me dizia que eu também deveria ter um. Eu pensava nas dificuldades, ou seja, no tempo que poderia dedicar ao blog. Ele postava diariamente e ainda respondia aos comentários que recebia. Isso me parecia mais um trabalho do que um hobby. E, de trabalho, eu já estava cheio!

Pouco antes de meu aniversário, em março de 2007, eu pensei no que me impedia de fazer o blog. Além do tempo, eu não queria ficar restrito a um tema apenas. Ou seja: não queria ter um blog apenas de contos, ou de poesias, ou apenas do que quer que fosse. Queria um blog amplo, tratando de diversos assuntos. Mas, como resolver esse impasse? E a questão do tempo? Eu já tinha visto uns blogs abandonados, como um cão abandonado nas ruas, seguindo alguns links da página do próprio Cadinho. Aquilo me pareceu muito deprimente.

Pensei, então, em fazer não um blog, mas um site, como o do meu irmão Celso, o Uma Coisa e Outra. Com a colaboração de muita gente, todos poderiam escrever, sobre qualquer assunto. E não teríamos caixa de comentários, porque eu me conheço e sei que poderia causar muita polêmica por aí.

Sou o que se chama de “livre pensador”. Meu ídolo, neste caso, é Bertrand Russell. Sendo um livre pensador, não me prendo a nenhum dogma, a nenhum partido político, a nenhuma religião. Penso e escrevo a partir de minhas próprias conclusões, certas ou erradas. Se, mais tarde, mudo de opinião, não tenho vergonha em admitir e mudo de rumo. Como fazem os cientistas.

Na minha profissão de jornalista, eu sempre pensei muito, mas raramente publicava o que pensava. Porque trabalhava nos jornais, nas revistas, nas emissoras de rádio ou TV de outras pessoas. Eu não era o dono. Era apenas um funcionário contratado, que recebia um salário para trabalhar de acordo com a filosofia empresarial do dono do lugar. Na verdade, escrever sobre o que eu pensava era o que eu menos tinha feito, em toda a minha carreira, inicialmente no Rio de Janeiro e, a seguir, em Belo Horizonte.

A idéia, então, começava a tomar forma. Eu poderia convidar vários amigos, que poderiam me indicar outros amigos, e faríamos um jornal virtual. Como o antigo “Pasquim”, que foi o melhor jornal que conheci e li durante a minha adolescência nos anos 70. Comecei a fazer convites para várias pessoas, de vários locais. Eu pretendia dar destaque a “notícias falsas”, ou seja, eu criaria as notícias ou debocharia das que existem. Publicaria, finalmente, o que pensava, e não o que o dono da minha empresa queria.

Falei com Cadinho que iria fazer um site, e não um blog. Mas, precisava de ajuda. Eu não entendia nada de internet. O que seria HTML? E RSS? Caraca, e Feed? Descobri que algumas pessoas fazem sites, mas cobram uma nota e a coisa poderia sair, esteticamente, bem diferente do que eu imaginava. E o ideal seria que a data de lançamento acontecesse no dia primeiro de abril, consagrado como o “dia da mentira”. Não existiria dia melhor pra lançar meu jornal virtual!

Cadinho me disse que também não entendia nada de internet, e quem quebrava todos os galhos era sua amiga da Inglaterra, mas estava viajando. Lembrei, então, da Débora, secretária da editora onde trabalho, e que sempre me ajudava nas minhas lutas contra o computador. Ela disse que faria o trabalho básico, de montar o site, sem problemas.

Porém, a vida nos prega peças. Uma semana antes do primeiro de abril de 2007, Débora pegou uma doença esquisita, debaixo do braço, e teve que ficar de licença, em casa, sem poder trabalhar no computador, pois tinha que ficar com o braço apoiado numa tipóia.

Pra adiantar as coisas, resolvi entrar na internet, via Google, e pesquisar como fazer um site. Passei dois dias tentando, até que vi que, sozinho, seria inviável. Foi quando resolvi experimentar fazer um blog, pra ver se seria mais fácil. A princípio, seria. Mas, o que uma criança de 10 anos faria em cinco minutos, eu levei cinco dias pra fazer! Consegui formatar o blog, mas ainda não tinha um nome, nem uma idéia precisa de como ele seria, esteticamente. Também não tinha conseguido nenhum colaborador, ainda.

Numa noite solitária, no final de março de 2007, eu iria, finalmente, dar um nome ao blog. Seria “Jornal... e daí?” Não podia ser um nome “normal”, como Jornal do Brasil, por exemplo. Foi quando olhei pela janela. Lá estava a Lua. Imensa, brilhante! Se eu não queria um nome “normal”, que tal um nome “lunático”? Pronto! Estava resolvido: Jornal da Lua!

A duras penas, arriscando, perdendo tudo e voltando novamente, consegui colocar o Jornal da Lua no ar, na madrugada de primeiro de abril de 2007. Como os colaboradores ainda não tinham me dado nenhuma resposta, achei melhor criar personagens, como se o blog fosse escrito por várias pessoas, minha idéia original. Meu amigo do Rio de Janeiro, Chico de Paula Freitas, por exemplo, ganhou não um, mas dois personagens: Francisco Freitas, o colunista anti-social, o oposto dos colunistas sociais, e Chico PF, o contista, já que ele tem um livro publicado.

Débora seria a Deb, inicialmente editora adjunta e, depois, administradora do blog. Outros personagens surgiram assim. Eu pensava que meus amigos, uma hora, me dariam a resposta: “Sim, aqui está nossa colaboração para o blog!” Ledo engano! Na vida real, isto nunca aconteceu.

Porém, assim que o blog surgiu, eu entendi que blogueiro só é ajudado por blogueiro. Cadinho anunciou, no seu blog, o lançamento do Jornal da Lua. Enquanto isso, eu fazia minhas pesquisas, tentando anunciar em alguns blogs que o Jornal da Lua existia. Lembro que fiquei quase três horas pesquisando, e frustrado com a qualidade do que encontrava. Para aquele pessoal, eu nunca me anunciaria. Foi quando encontrei o Mãe Global.

A princípio, nada nos identificava. Era um blog sério, tratava de assuntos relacionados à Educação, a criação de filhos, por aí. Mas, uma coisa era inegável: a alta qualidade dos temas, e aquela escrita perfeita, de autoria de Rosana Watson. Àquela altura, Cadinho já tinha tirado da minha cabeça a idéia de não colocar a caixa de comentários. Ele tinha recebido queixas, de blogueiras amigas, dizendo que queriam me dar as boas vindas, mas, sem os comentários...

Eu tinha publicado quatro ou cinco posts, com “notícias” falsas, meras piadas, ou colocado absurdos em situações verdadeiras, transformando uma notícia real numa piada. Criei apenas um e-mail, como via nos sites. Mas, o Cadinho me alertou: “Nem Madre Teresa vai te escrever. Abre a caixa de comentários, ou você não saberá quem te lê!”

Resolvi experimentar. Pra minha surpresa, logo nos primeiros dias começaram a chegar os comentários. Fiz amizades que me acompanharam ao longo desses 365 dias. Rosana, por coincidência, também havia criado o Mãe Global há poucos dias, e começamos a fazer amizades com as pessoas que passavam em nossas caixas de comentários.

Também fiquei impressionado com uma jovem blogueira de Teresina, no Piauí, a Juju, então com 14 anos! Jamais imaginei uma blogueira tão jovem, e, ainda por cima, tão talentosa. Depois, Rosana me disse que o filho de uma amiga, de 13 anos, acessava o Jornal da Lua todos os dias, em busca de posts novos, e se divertia muito com tudo, textos e imagens. Eu imaginava escrever para um público mais velho, pelo menos com mais de 20 anos, mas descobri, aos poucos, que quem gosta de blogs, ou escreve um blog, na maioria, é o pessoal bem jovem mesmo, entre 13 e 20 anos.

Como tenho alma de adolescente, vi que estava entre pessoas iguais. Hoje, por exemplo, tenho na minha relação de links um blogueiro de 63 anos e uma blogueira de 13 anos. Cronologicamente, 50 anos os separam. Mas, no mundo virtual, o tempo não existe. Prova disso é que os blogs dos dois estão linkados, eles trocam comentários sem o maior problema.

E foi na blogosfera que conheci dezenas de pessoas maravilhosas. Citar todas aqui seria cansativo para quem está lendo agora, e este post já está ficando maior do que eu queria, parecendo aqueles posts enoooooorrrmmmmeeeeeeeessssssss da nossa querida Mah, do Infinito Particular. Mas, quase todos os blogs linkados aqui à direita são de pessoas que considero amigas mesmo! Três delas já trabalham comigo, via internet, em uma das revistas que edito.

É interessante destacar que existem blogs de homens que são bons mesmo, como os de Alex E, Santilli, Rayol e André Wernner. Mas, nada que chegue perto dos blogs das garotas! A começar pelo visual.

Amanda Oliveira devia estar fazendo uma pesquisa sobre a cidade de Santos, quando chegou ao Jornal da Lua. Pois deixou ali um comentário sobre a música “As Curvas da Estrada de Santos”, que eu havia publicado no post. Foi através dela que cheguei a dezenas de blogs excepcionais, a começar pelo Chá das Cinco, editado por ela, Amanda Bia, Ana Benevan, Ana Fernandes e Jaya.

Dali, cheguei a blogs nunca imaginados por mim, de altíssima qualidade, editados por meninas a partir de 13 anos. Na época, fiz até um post em homenagem a essas estupendas blogueiras, colocando uma delas como personagem principal, a excelente Kamilla Barcelos, do Mundo Efêmero. Com 16 anos (hoje “já” tem 17, não é Kamilla?), escreve muito melhor do que a maioria dos jornalistas que conheço. O segredo é que essas jovens blogueiras não vivem apenas na internet. Procuram bons livros, bons autores. Como Clarice Lispector, que parece ser uma unanimidade entre elas.

Finalmente, reconheço que não é o momento para falar de coisas tristes, mas não contamos mais com a presença de uma blogueira excepcional como a Patty, do blog Palavras. Nos últimos nove meses, o Jornal da Lua recebeu dela colaborações maravilhosas. Imagens, textos e um apoio constante. Eu pedia uma ilustração, por exemplo, e ela me mandava duas! Boa parte do visual atual do blog foi feito por ela. Há pouco mais de uma semana, ela disse que iria fechar o Palavras. Meus pedidos para que reconsiderasse foram em vão.

Fica a torcida para que ela volte um dia. Patty deixa um vazio, porque é daquelas autoras incomparáveis, como Yvonne e Betty. Existem blogs parecidos com outros, mas também existem blogs incomparáveis. O Palavras era um desses raros. De minha parte, fica uma gratidão eterna.

Muito obrigado a todos, de coração, e espero contar com vocês novamente no próximo ano. Cada um, a seu modo, deixando a sua contribuição para um mundo melhor. E, aqui, eu não falo apenas do mundo virtual.

Grandes abraaaaaaçoooooooos, grandes bjoooooooooooooossssssssssssssssss!!!!!!!