lobo e lua

lobo e lua

31.1.08

Jurema

Chico PF
(Francisco Paula Freitas)


Vi Jurema na praia. Lá ia eu, lá vinha ela.
Com a aproximação, estranhei seu
novo penteado e as longas luvas amarelas
que iam até os cotovelos. A mala de lona retangular
e sua roupa também preta, naquela manhã de sol, soavam
um tanto exóticas.

Jurema não era disso, era discreta. Como mudam as
pessoas, eu pensava enquanto ia. A poucos passos, percebi
não tratar-se de Jurema. Claro, nem poderia ser.
Jurema havia morrido há alguns anos. Como confundir
aquela negra, metida em suas luvas amarelas que iam até
a altura dos cotovelos, com Jurema já morta; que fora,
em vida, a moça tímida e envergonhada que eu conhecera
na infância? Depois, o que significava aquilo? Dez
e meia da manhã, sol forte, aquela mala de lona, a roupa
p reta e as longas luvas amarelas, que agora podia ver,
eram de plástico. A resposta veio logo após sua passagem.

Dei uma parada, virei-me e a vi abrir o fechecler e
colocar na mala mais uma latinha de refrigerante que
acabara de catar entre os restos na lixeira da calçada. Há
em alguns miseráveis uma nobreza, um orgulho que teima
em lutar contra a humilhação. Aquela mulher que
agora de perto pude ver, e que nada tinha da boa, doce
e meiga Jurema, confirmava com seu porte e gestos o
que eu acabara de pensar. Não pude evitar um sorriso.

Talvez estivesse querendo rever Jurema, lembrar-me
dela. Por isso vi naquela mulher que vinha um pretexto,
e não mais que isso, para trazer à lembrança a pessoa
de quem poderia, e isso só me teria feito bem, ter
vivido um pouco mais próximo.

Mas por que diabos as aproximei? Será que a bondade
e a placidez de Jurema tinham algo a ver com a eficiência
e modernidade, digamos assim, da pobre mulher
da mala com fechecler que pegava suas latas? Associações
estranhas: altivez, bondade, eficiência, orgulho,
mansidão. Vá eu compreender...

Agora que continuo caminhando e a mulher orgulhosa
e um tanto airosa com suas luvas amarelas, que me
impressionou pela sua desenvoltura e altivez, ficou para
trás, longe dela, vou refazendo e remontando os pedaços
da boa lembrança.

Não sei se cheguei a ver Jurema com o uniforme da
escola pública, penso que sim, mas não tenho certeza.
Do penteado, que nunca mudou, e foi o único em toda
a sua vida, me recordo e bem. Era comum. Hoje quase
não se vê. Lembrava uma maria-preta. Aos antigos não
preciso, aos mais jovens, explico: maria-preta era uma
espécie de balão sem bucha, sem papel fino e sem cola
que as crianças pobres faziam. Bastava uma folha de jornal.

Estendia-se a folha, juntava-se o canto superior
esquerdo ao canto inferior direito e o inferior esquerdo
ao superior direito. Feito isso, quando as extremidades
se encontravam no centro, eram enroscadas e apertadas.
Aí, com cuidado para não amassar e desfazer o bojo, era
só colocá-la de bruços e tocar fogo nos quatro cantos.
Ao mesmo tempo em que ela se incendiava, ia subindo
até a altura dos telhados, quando, já toda queimada, se
desfazia em papel carbonizado e caía aos pedaços. Assim
era o penteado de Jurema, um pixaim onde eram dados
quatro pequenos nós em cada punhado de cabelos que
convergiam e se ajustavam em quatro cantos na cabeça.

Toda sua vida foi de entrega e renúncia. Na verdade,
penso que nunca a viveu para si. Viveu-a para os outros.
No início, para a macumbeira que a adotara. Como tantas,
Jurema, ainda bem pequena, foi apanhada para
criar. Mas a caridade de quem a acolheu era mera vitrine
ou falsificação da bondade. O que a mulher queria e
de fato conseguiu era uma escrava. Já abolida, ainda que
apenas formalmente, a escravidão imposta exclusivamente
pela cor ainda existe para todos, negros ou não,
desde que confinados à miséria, à ignorância e à falta de
oportunidades.

Mas não nos percamos.

Mesmo criança, Jurema não era bonita, muito ao
contrário. Entre as brincadeiras das meninas havia a do
diabo. Formava-se uma roda, e uma, por sorteio, fazia o
papel dele. Para tal, arregalava os olhos, rilhava os dentes,
punha a língua para fora e grunhia, fazendo a cara
mais feia que pudesse fazer. As outras o desafiavam cantando
algo como "... o Diabo tem dois chifres, gelofrê,
gelofrá..." Provocado, ele avançava sobre o grupo, que
fugia aos gritos em nervosa e dispersa disparada. Aquela
que o diabo conseguisse pegar faria o seu papel na próxima
vez, e assim por diante.

Quando coincidia do diabo ser Jurema,
o terror tomava conta de Marlene. Ela sentia
tanto medo, corria tanto, mas tanto, que tinha
a impressão de que iria morrer se fosse
apanhada pelo diabo-jurema.

Mocinha, Jurema, negra retinta, com seu penteado
de maria - preta, aos domingos ia ao cinema.
Um dinheirinho qualquer bastava. O ingresso
era barato. Depois, na pracinha suburbana,
as moças de braços dados, umas com as outras,
circulavam em um sentido e os rapazes em
outro. Este carrossel proporcionava um encontro a cada
volta na praça. Nos momentos em que os jovens
se admiravam e sorriam, Jurema, tímida, olhava para o chão.

Contou que não ficara aborrecida com uma colega
que respondera ao jovem galanteador que ela era sua
empregada. Compreendera: não ficaria bem. Todas
eram brancas e lindas; eu, burra, feia, preta.
Mais adiante, ainda no batente, agora com carteira
assinada, passadeira da fábrica de gravatas de seda, oito
horas por dia junto ao ferro, vence a vergonha, atreve-se
e consente conversar com aquele que, acredita, pode-
ria vir a ser um namorado. O primeiro. Tinha na época
mais de trinta anos. Ficou toda prosa, parecia
uma adolescente. Após uma semana de tímidas
conversas no bonde de segunda classe, ele alega
certa dificuldade financeira, Jurema empresta-lhe
e nunca mais o vê. Não ficou com raiva: ele precisava,
coitado.

Ficava triste quando alguém lhe dizia que não tinha dinheiro .
Ganhava o mínimo e dava-o todo a quem lhe pedisse.
Sobrinhos, então... Quando recebia, passava na porta da
amiga Marlene e perguntava se ela não queria comer
uma coisa gostosa. Um sorvete, ela comprava; um bife,
ela fritava. A felicidade dela sempre dependeu da felicidade
dos outros.

Trocados tinha sempre, e com eles fazia a fé que seria
salvadora. Das amigas, dos sobrinhos e dela também, se
sobrasse... Todos os dias jogava. Preparar o jogo era o
seu grande momento. Às vezes tentava dormir um pouco
para ver se no sonho vinha alguma inspiração. Era divertido
ver Jurema com os talões do jogo do bicho e as listas
dos resultados arrumados, lado a lado, em perfeitas
disposição e organização cronológica, cercando o veado
para que ele não fugisse... Dia após dia, lá ia Jurema ao
apontador levar seus tostões à sorte. Sua lógica era infalível:
se o mês tem trinta dias e o jogo tem vinte e cinco
bichos, jogando no mesmo todos os dias, no fim de um
mês, no máximo, devo acertar. Jamais ganhou.

No escuro, um vulto escuro me assusta. Na entrada
da vila, encostada ao muro, braços cruzados, a cabeça
pendida, apoiada no ombro, ouço Jurema:
—Sou eu, estou aqui vendo o céu, é tão bonito...
Marlene dizia que jamais vira um ser humano assim;
que era um anjo de bondade, de ternura, de educação.
Tinha plena consciência de sua feiúra, por isso preferia
esconder-se, andando sempre de cabeça baixa, envergonhada.

Porém, era só encará-la e descobrir a doçura e a
bondade em seu triste olhar. Sempre tesa, ainda assim
ajudava a todos. Era só ter. Irmão, amigas, sobrinhos.
Ninguém ficava em falta. Chegava a se encalacrar com o
agiota para dar o dinheiro a quem precisasse. Até a conta
de luz dos amigos, ameaçados pelo corte, ela pagava.

Vive o resto dos seus dias debruçada no fogão, cozinhando
para os sobrinhos que não lhe poupam nem
compreendem sua dor e sofrimento. Não ouve os conselhos:
Você, assim, vai morrer, sua boba. Descansa,
pára um pouco! Põe esses marmanjos para trabalhar. A
todos responde, dizendo: São apenas crianças, cresceram,
mas são meninos, não têm mais mãe...

Quando morre a mulher que a acolhera e a criara,
Jurema convida o irmão e uns outros sobrinhos para
morar na casa que ficara com ela. Má educação, cachaçadas
e escândalos passam a fazer parte da vida de
Jurema. São em tudo o oposto a ela. Não consegue conviver,
vai embora, e ainda assim continua a pagar o aluguel
para que eles lá permaneçam. Não quer que voltem
para o buraco onde viviam...

Magra e minguada, no hospital, entre aquelas paredes
e lençóis brancos, onde vai morrer dali a alguns dias,
só se vê a cabecinha negra, miúda com seu penteado de
Maria-preta.

Os olhos cheios d'água, Jurema, mãos dadas à velha
amiga, com voz sumida, pergunta:

— Marlene, beijar na boca deve ser bom, não é?

Publicado no livro "Café e Bar Ponto Chic"
Editora Bertrand Brasil - 2003

27.1.08

Kamilla Barcelos volta com seu Mundo Efêmero

Apulcro Mambojambo e
Gudesteu Hostalácio

O ano de 2008 começou com uma pergunta repetida diariamente na redação do Jornal da Lua:

- Onde estará Kamilla Barcelos?

Seu desaparecimento foi um mistério para nossa equipe e todos os blogueiros amigos. De Angra dos Reis, onde foi passar as férias, Patty Alves ligou aflita:

- Alguma notícia da Kamilla?

Dentro de um avião, André Wernner abriu o notebook e mandou o recado:

- Escreve pro Google!

Luiz Santilli, de São Paulo, pedia providências urgentes:

- Tente a Interpol!


Foi o maior pandemônio na redação. Pessoas entrando, reclamando, telefones tocando sem parar. E-mails de todas as partes, o velho fax voltou a funcionar. Até o correio. Chegavam cartas:

"Minha conexão caiu. Kamilla apareceu?"

Em sua sala, nosso editor ligava e recebia chamadas.

- Chefe, Amanda no telefone!

- Pode passar.

- Chegou uma tonelada de e-mails: Alma, Bruna, Fabiane, Saramar, Alê...

- Alê apareceu?

- Até Alê apareceu! Já Kamilla... Bom, recebemos outros mails: da Maristela...

- Maristela? Onde ela está?

- Não disse. Só pergunta pela Kamilla. E também Mylene, Ana D, Jaya, Fláh, Bete, Lilah, Andreia, Lelinha, Carol Honey, Felícia Feliz, Ana (da Gazeta), Kika, Nanah, Luma, Mariana, Carol (a Menina Lunar), Silvia, Sueli, Leticia, uma tal Little Devil...Essa eu não conheço, chefinho!

- Sei quem é. Vive trocando de nome e de blog. Agora tá no Overlooka.

- Ah, lembrei! Carla Granja mandou o desenho de uma rosa pra Kamilla. Recebi também diversos telefonemas: da Naninha, Priscila, Layla, Beth, Bia e Biaaahhh, Jorge Sôbesta, Vieira Calado, Ana Paula, Weird...

- Chefe, Amanda no telefone!

- Ué, mas eu acabei de falar com ela!

- Aquela foi a Oliveira. Esta é a Amanda Bia.

- Ah, do Chá das Cinco. Pode transferir!

A orelha de nosso editor ficava vermelha, de tanto atender ligações. Depois da Amanda Bia, foi a vez de atender chamados da Betty, Iza, Teresa e Livia Nadezhda. De Araçatuba, Marcela fez uma promessa:

"Se a Kamilla aparecer, eu juro que faço UM post pequeno. Eu juro!"

Rayol mandou recados pelo Feedburner, Technoratti, RSS e Google Talk:

"Eu aceito até publicar um meme, depois que a Kamilla aparecer."

Juju questionou a agitação:

"Depois que acabar toda essa confusão aí, vocês passem no meu blog e deixem seus comentários."

Em Guarapari, Magui, ouvindo "Are You Lonesome Tonight" no walkman, foi avisar Yvonne, que saiu da cama, depois de dias tossindo, e mandou um e-mail:

"Será que ela não foi pra praia? Vai ver, tá aqui perto. Mineiros, em férias, só pensam em praia."

Os telefonemas continuavam. Rosana, do Mãe Global, pedia:

- Vamos pensar positivamente!

De Recife, Regina mandava uma idéia:

- Vixe! O negócio é fazer um abaixo-assinado e enviar para o Hugo Chavez!

Bridget Jones e Lee Holloway tentavam analisar a situação:

"Se olharmos por um prisma junguiano..."

- Chefe, Aninha e Ana Fernandes convidam para um chá, depois de tudo esclarecido!

No meio do tumulto, dr. Bruegel chegou à redação:

- Fiquem calmos! Temos um novo post!

Todos se voltaram contra ele:

- Quem quer saber de novo post?

- Você não vê que estamos procurando a Kamilla?

- Bota esse cara pra fora!

- Que egoísta!

- Safado!

Apesar de empurrado e insultado, dr. Bruegel ainda conseguiu falar:

- Mas é isso que eu tô querendo dizer!!! Tem post novo no blog da Kamilla!!!

O silêncio foi imediato. Todos ficaram parados e confusos. Aos poucos, nossa equipe foi caindo na real.

- Tem post novo no Mundo Efêmero?

- Tem, eu acabei de ler!

- Assinado pela Kamilla?

- Assinado pela Kamilla!

- Caraca! E o que ela diz? Tava mesmo na praia?

- Ela não diz nada sobre férias. Eu me lembro da primeira frase: "Ontem, minha prima de quatro anos veio passar o dia aqui em casa."

- E não disse pra onde foi, desde o Natal?

- Nadinha! Aparentemente, nem saiu de casa. Vi um recado lá, informando que ela tá lendo "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

- Então, ela ficou esse tempo todo em casa, lendo Machado de Assis?

- Parece que sim.

A euforia foi geral. Nosso editor entrou em sua sala e chamou os repórteres:

- Vocês anotaram tudo?

- Sim, chefinho! Tudo!

- Então, já temos a manchete de nosso próximo post! Anotem aí: "Kamilla Barcelos volta com seu Mundo Efêmero". Ufffaa!!!!! Pensei que ia ter que apelar pra outra piada infame de português!!!!

24.1.08

Cantor Bono Vox é agredido em Lisboa

Jânio OB
ENVIADO ESPECIAL


A banda U2 fez um grande show em Lisboa, com casa lotada. Tudo ia bem, até que, depois de várias músicas, o cantor Bono Vox pediu silêncio à platéia.

Atendido, Bono começou a bater palmas de uma maneira ritmada. Sem parar de bater palmas, se aproximou do microfone e disse para a platéia silenciosa:

- Eu quero que agora vocês pensem numa coisa muito importante: a cada batida de minhas mãos, uma criança morre na África!

Nisso, surgiu uma voz do meio da platéia, com aquele sotaque característico, gritando bem alto:

- Então pára de bater, ó filho da puta!!!

22.1.08

Receita popular para uma boa dieta

Yvonne da Lua
CORRESPONDENTE

Um mendigo aproxima-se de uma mulher cheia de sacolas de compras e diz:
- Madame, eu estou sem comer há quatro dias!!!

E a madame:
- Meu Deus... Como eu gostaria de ter a sua força de vontade!

19.1.08

Como entrar para o Big Brother Brasil

Teresa Soares
ESPECIAL PARA O JORNAL DA LUA

Tudo que o homem e a mulher precisam fazer para participar do BBB é:

Mulheres: peito e bunda são fundamentais. Se o cabelo for tuim, dê uma definitiva. Faça plástica pra consertar a venta de porrote, o olho de bomba, o beiço de vaca e a orelha de abano. Entre na ginástica, sua mamona assassina; a Globo só mostra baleia no Globo Ecologia. O BBB é um programa com outro formato, literalmente [e lateralmente]. Desencrave as unhas, remova cravos e espinhas. Se tiver dentes tronxos, use aparelho. Torne-se puta. Use fio-dental ou não use nada. Fale muito, mesmo que só fale merda. Brigue por tudo. Ande com a barriga de fora. Permaneça na seca. Tenha um nome comum; nada de Sherylânia ou Marqueleide. Se tiver nome difícil, mude o RG; caso contrário, a produção não vai nem assistir sua fita. Nome assim baixa a audiência e não cabe nas janelinhas da abertura do programa. Torne-se alcóolatra. Com relação à mentalidade, seja fútil. Não leia livro, nem jornal. Revista, só de fofoca. Não demonstre interesse por assuntos como bolsa de valores, aquecimento global, CPMF ou a libertação dos reféns na Colômbia. Preocupe-se apenas com unha, cabelo, maquiagem, marca de biquini, homem, dinheiro e cachaça. Dê um jeito de demonstrar tudo isso na fita. E não diga "eu sou puta", diga apenas que saiu com 12 ontem. Eles vão entender.

Homens: peito e bunda também contam pra vocês. O cabelo deve ser bom; se for cacheado, precisa ter estilo. Se for careca, faça implante. Se for gordo, emagreça. Hipopótamos também só são mostrados no Globo Ecologia. A regra da venta de porrote, do olho de bomba, do beiço de vaca, da orelha de abano, dos dentes e da unha também vale pra vocês. Eu não sei porque, mas vocês têm que ter o pé grande. Agora, vocês vão ter que escolher uma dessa opções de animais: ou torna-se viado ou cavalo. Ou dorme abraçado com um ursinho ou arrota 16 vezes por dia. Ou veste cueca do Puff ou não veste cueca. Ou pega todos, ou pega todas. Mas não pode ser homossexual, tem que ser viado mesmo, frango. Com relação ao nome, você não pode se chamar algo do tipo Howlfrayer ou Marthynelson. É totalmente contra a política editorial de abertura do BBB. Na sua cabeça, três assuntos bastam: mulher (ou homem), dinheiro e cachaça. E, na fita, não diga "eu sou viado", diga apenas que sua cor preferida é lilás. Eles vão entender.

Agora, se você não bebe, não fuma, é virgem, gago, anão, velho, banguela, tem asma ou qualquer outra doença, até uma simples alergia, esqueça! Você tá fora. Vale lembrar que aleijados, cegos e surdos-mudos também são barrados, pois o BBB é só para perfeitos. Mas o que é perfeição para você? Um programa que exclui não pode ser perfeito. E o BBB começa com exclusão de milhões de inscritos, passa pela exclusão de classes, costumes, idades, raças e chega na pior exclusão de todas: a de valores. Quer entrar no BBB? Entre, só não esqueça de deixar os princípios de fora. A roupa e a vergonha na cara, também.

Teresa Soares é estudante de Jornalismo em Pernambuco e editora do blog Caneta Vazia

16.1.08

Está tudo sob controle

André Wernner
ESPECIAL PARA O JORNAL DA LUA

Segundo a nova elite dominante, populista e quase bolivariana, o país não terá apagão. Ôba!!

Está tudo sob controle. Inclusive o Universo que, como você sabe muito bem, apesar dos danos causados pelos humanos – e ainda não bolivarianos – continua no seu eixo, sem pender para a direita, e menos ainda para a esquerda... Muitos, porém, aqui embaixo, não têm a mesma firmeza. Às vezes, pendem para a direita. Outros, e muito mais freqüentes, à esquerda, que domina veementemente pelo verbo e, diminutamente, pela ação... Coisas do universo humano, né?

Mas o apagão para os ilustres – mas nem tanto – da República política tupiniquim da atualidade, caso aconteça, mesmo que neguem, não é nada! Porém, tem o mérito de relembrar a todos – bolivarianos ou não – que, mesmo antes do grande relato bíblico, “faça-se a luz!”, e a luz se fez, tudo era trevas, escuridão, ou um eterno apagão, até então... Se, por outro lado, nos dias que correm, os quase bolivarianos conseguirem trazer o apagão para mais próximo da grande massa ignara, e também dos supostos brasileiros de primeira e segunda classes – é, não se assuste, estamos caminhando para a divisão de classes sociais... – poderão dizer, justificando como de costume, que assim era o mundo antes do grande clarão...

Mas, agora, com a nova política emPACtada de ação que gera luz, o apagão é apenas uma peça promocional do conjunto de medidas a serem apresentadas pelo governo, no sentido de mostrar que mesmo nas trevas há pontos positivos para se crescer e muito!Pois, das trevas da ignorância se faz um novo País. Novo no conceito e perdido na ética e na moralidade pública.

Muitos políticos há anos já vivem nas trevas do apagão moral. A sociedade atônita vive no apagão dos seus direitos e de mobilização, também por dormência, enfim. Se você analisar calmamente, verá que, entre o progresso capenga do país e a luz do progresso reinante de um tempo que não volta mais, o que domina hoje é o apagão de idéias, de interesses maiores pelo crescimento real da nação, e também de uma sociedade acomodada e de um governo sem brilho.

Afinal, para brilhar é preciso luz! Mas a primeira luz é a da consciência! Como esta está em desuso, o apagão há muito que se estabeleceu na República política de decisões pífias e ninguém consegue extirpá-la. Pelo menos, por enquanto. Portanto, se o apagão atingir o seu prédio e você tiver que subir dez, doze, treze andares, pode reclamar e chiar à vontade. Ninguém vai lhe dar atenção... É isso mesmo. Mas, com a sabedoria da Nova República e da elite política dominante, eles vão lhe dizer que estão lhe fazendo um favor. Afinal, subir todos os dias centenas de degraus é um exercício natural e saudável para qualquer cidadão, segundo recomendação médica.

E mais: com a vantagem de não precisar desembolsar um centavo que seja para pagar academia de ginástica... Não é maravilhoso? Não demonstra um carinho especial – como diria um político amigo, pela “pessoa humana"?, por que desumana está cheio por aí... Não sei se você é daqueles tempos – bons tempos! – quando se falava, lá no interior, “vamos em frente, rápido, sebo nas canelas...” Pois é! Recomendo a você sebo nas canelas e desde já ir se preparando para exercitar esse ‘modelito corporal’ e assumir o que lhe espera... A realidade do apagão, a escuridão, as trevas, o caos dos primórdios...

Não se assuste. Tudo era pó. E ao pó voltará! Seria essa a missão dessa nova elite intelectual e quase bolivariana? Deus o sabe. Amém? Na dúvida, procure o bispo, o padre, o apóstolo, a bispa, o cooperador. Mas, um conselho de amigo: tome cuidado com os vigários, digo, vigaristas de plantão... Você pode até nem saber quem são eles, mas eles sabem quem é você. No mais e na medida do possível, felicidades meu caro! Eu, precavido, já estou investindo no aspecto interior (da alma! Pois, o interior do país também vive a sobressaltos...) e almejando uma reencarnação em tempos mais adequados para um espírito de paz e que quer ver, novamente, esse chão com outros olhos.

André Wernner é jornalista e editor do blog que tem o seu nome: André Wernner

10.1.08

Sertanejos são condenados a ouvir heavy metal

Patty Moon
A REPÓRTER MAIS ESPECIAL DA BLOGOSFERA!!! (E DO MUNDO TOOODOOO!!!!)


Na nossa última reportagem, abordamos uma questão ocorrida recentemente numa cidade do Sudeste brasileiro. Um juiz, que pediu para não ser identificado (com medo de retaliações!) , resolveu atender às inúmeras reclamações dos moradores, nervosos com os metaleiros do local, que ouviam heavy metal e rap com o volume no talo, em casa e também nos automóveis.

Nos últimos dias, com o sucesso da punição, diversas mães de metaleiros entraram na Justiça exigindo que o mesmo procedimento fosse adotado em relação aos ouvintes de música sertaneja. "É um absurdo nós termos que aguentar vizinhos ouvindo essas breguices no maior volume", disse Maria Stela Barros, mãe de um metaleiro. "Eu tive que ficar uma hora na delegacia, esperando meu filho ser obrigado a ouvir essas coisas horrorosas, amarrado numa cadeira, sem poder nem tapar os ouvidos. Agora, nós, mães de metaleiros, exigimos a mesma punição para os sertanejos!"

Ouvido mais uma vez por nossa reportagem, o mesmo juiz considerou justas as reivindicações das mães dos metaleiros: "Na minha opinião, bastaria que todos que gostam de ouvir música em volume muito alto usassem fones apropriados. Assim, eles ficariam surdos, mas os vizinhos não ficariam loucos!"

Com a nova lei em vigor, no primeiro dia foram presos dezenas de infratores. Levados para a delegacia, cada um foi obrigado a ouvir heavy metal e rap durante uma hora seguida. Na saída, todos juraram que nunca mais iam ouvir música sertaneja com volume alto, em casa ou no carro. "Foi a maior tortura de minha vida, dona repórter!", disse um dos condenados, depois de sair da delegacia. "Prefiro cavar a minha própria sepultura!"

Aliás, Sepultura foi um dos grupos que o sertanejo teve que ouvir. No mesmo volume que ouvia suas breguices sertanejas. Agora, são grupos anti-Carnaval que se mobilizam na cidade. De acordo com o líder da Entidade Contra o Carnaval! (ECCA!), Sebastião Catapulga de Orleans e Moreira, "se a gente ficar na cidade, vamos sofrer mais do que vizinhos de metaleiros e sertanejos. Carnaval não passa de uma bagunça oficializada. Quem tem grana, vai se mandar pra longe, onde não se ouve essa batucada infernal. Quem não tem, ó!!!!" Catapulga fez um gesto de "sifu", entenderam?

E assim termina mais um capítulo da emocionante novela que se desenrola numa agitada cidade do Sudeste brasileiro. Nós estaremos sempre alertas, em defesa de ouvidos agredidos por gritos infernais, lamentos brejeiros e toda sorte de poluição sonora que destrói, cada dia mais, a camada de ozônio e a nossa paciência! Haja saco!!!

6.1.08

Metaleiros são condenados a ouvir música sertaneja

Patty Moon
A MINHA, A SUA, A NOSSA REPÓRTER ESPECIAL!!!


No Brasil, dizem que “algumas leis pegam, outras não pegam”. É, mas agora parece que uma vai pegar hehehe!!!

Depois de receber uma série de reclamações, um juiz de uma cidade do Sudeste brasileiro, que pediu “pelo amor de Deus” para nossa reportagem não citar seu nome, condenou todos os metaleiros e rappers que deixam seus botões de volume “no talo”, em casa ou no carro, incomodando vizinhos, motoristas e transeuntes.

Os infratores são presos e obrigados a ouvir música sertaneja durante uma hora seguida, trancados numa sala. Do lado de fora, observando através de um vidro a prova de som, ficam os oficiais de Justiça, que não permitem que eles tapem os ouvidos.

Caso os infratores insistam em tapar os ouvidos, são amarrados numa cadeira. O repertório inclui diversas duplas sertanejas e também cantores que ficaram sem parceiros, como Leonardo e Daniel.

O método tem se mostrado muito eficiente. Até agora, nenhum metaleiro, nem rapper, voltou a desrespeitar a lei. Um dos condenados, Jão Phil Rotten, declarou à reportagem do Jornal da Lua que ficou desesperado, enquanto era obrigado a ouvir Zecão e Zecãozinho, que cantavam “Vamu largá essa rossa e vamu prum moteu in Maiame”.

Um oficial de Justiça comentou que outro condenado, Jeba Syd Trash, chegou a confessar os assassinatos da mãe e da irmã mais velha, durante a audição de uma das duplas escolhidas. Com o sucesso da nova lei, o juiz agora é o preferido da população para ser o próximo prefeito, mesmo que ninguém saiba seu nome.

“Eu estava de saco cheio de ouvir reclamações de gente que odeia heavy metal e rap”, disse o juiz. “Mandei prender os caras e fiz uma enquete para saber qual estilo musical eles mais odiavam. A música sertaneja ganhou disparado. Então, encomendei mais de cem discos desse estilo e obrigamos os condenados a cumprir essa dura pena. Para alguns, que se mostram muitos valentões enquanto estão presos, providenciamos algumas variações, como a audição de CDs de artistas como Barbra Streisand, por exemplo. Depois de uma hora, eles saem quietinhos e nós podemos ter certeza de que nunca mais vão encher o saco dos outros”, finalizou o juiz.

Luis Canolongo, que recebeu o castigo, disse que o maior desafio é não cair no sono. "Pra um cara que ouve metal e rap em volume muito alto, sentar e ter que ouvir Barbra Streisand ou Chitãozinho e Xororó por uma hora é uma punição severa demais", afirmou. “Nunca mais vou incomodar os vizinhos.”

1.1.08

Ano Novo

Maristela Bairros
CORRESPONDENTE

Ano Novo. Rasgue todas as listas de planos. Não servem para nada. Vai por mim. Não lamente nada nem se prometa que vai fazer diferente. É só mais entulho emocional. Deixe de se achar acima do bem e do mal e capaz de ser a criatura mais original do mundo. O calendário já mudou de formato n vezes e dia primeiro de janeiro de 2008 é só um dia a mais na vida. Pare de pagar mico comprando calcinha amarela, vermelha, branca. Nem a turma de pai de santo se entende. Jogue no lixo a angústia de pensar que vai ficar em casa sozinho, de pijama, vendo um filme sem graça na tv. Antes só...

Caia fora do jogo de pegar folhinhas de louro e fazer patuás que vão ficar perdidos numa gaveta ou mofando na carteira. O único jeito de ficar rico é roubando do pobre. O resto é crendice. Nem pensar em fazer as pazes com aquele cara insuportável que empurra seu carro pra frente na garagem por mera mesquinharia. Ele que se dane. Tire da cabeça a idéia besta de ser a rainha da harmonia da escola de samba do ano novo. Ninguém está dando bola. Compre um espumante legal, um sorvete de pistache, uns morangos e faça a festa.

Chore sem vergonha, se tiver vontade. Mas tenha em mente que não é porque é Ano Novo, e sim porque choro não tem hora pra chegar. Dê muita risada, bem alto, se estiver no cinema. Afinal, quem pagou o ingresso foi você. Durma tranqüilo. O dia seguinte não vai ter nada de diferente. O que pode ser muito bom, afinal.

Maristela é correspondente do Jornal da Lua em Porto Alegre, editora do blog Clínica da Palavra e autora do livro Chutando o Balde