lobo e lua

lobo e lua

27.10.08

Coisas para NÃO fazer antes de morrer

Dave Freeman e Neil Teplica publicaram o livro Cem Coisas para Fazer Antes de Morrer, em 1999. Desde então, muita gente ficou com a sensação de que sempre falta fazer alguma coisa importante.

No entanto, três livros recentes listam o que NÃO fazer antes de morrer: 101 Coisas para Não Fazer Antes de Morrer, do americano Robert Harris, Não Ligo a Mínima, do inglês Richard Wilson, e Cai Fora! 103 Coisas para Não Fazer Antes de Morrer, do também inglês Sam Jordison. "Eu vi as listas do que fazer e tive a sensação de que nunca iria conseguir. Percebi que era ridículo e decidi livrar as pessoas desse tipo de opressão", disse Jordison, que é crítico literário do jornal The Guardian. Então, não se desespere se você NÃO:

Visitar o Taj Mahal — Conhecer o mausoléu transformado em declaração póstuma de amor é item obrigatório dos viajantes aventureiros. Atente-se para o fato de que o monumento é cercado de Índia por todos os lados: o rio cheira mal, o calor é insuportável, mendigos imploram por trocados e, acima de tudo, há turistas demais. Todos, sem exceção, tirando fotos que serão versões pioradas das imagens dos cartões-postais e guias de turismo. "Eu estive no Taj Mahal e acho que acontece o mesmo que com as pirâmides do Egito e com Machu Picchu: já vimos tanto na televisão e em fotos que, ao vivo, não são tão bonitos. Também dizem que é incrível mergulhar nas Maldivas, mas eu nem sei nadar. E aposto que muitas daquelas cenas eu vi em Procurando Nemo", disse Wilson.

Conhecer vinho – Se não tiver jeito para a coisa, faça como todo mundo e escolha o vinho pelo preço. Saiba que a lei da oferta e da procura funciona: os mais caros são os melhores e os menos caros são os não tão bons.

Ler Guerra e Paz – Ou Ulisses, ou a Ilíada. São obras-primas da Literatura, é verdade. Mas ninguém é obrigado a ler suas centenas de páginas se não aproveitar de verdade. Em resumo: não acabe um livro de que você não gosta. Leia outra coisa.

Completar uma maratona – Não basta caminhar na esteira, correr no parque, gastar o calçadão? Para os obcecados por saúde, quem nunca correu 42 quilômetros, como o soldado grego Feidípedes (que morreu depois de completar o trajeto entre Maratona e Atenas), é um sedentário comedor de pipoca na frente da televisão. Se der muita vontade, deite e espere passar.

Praticar o Kama Sutra – Ou fazer sexo na praia. Ou no avião. Sexo é prazer, não competição. "Desde quando contorção corporal é coisa erótica?", pergunta Jordison em seu livro. Sem o peso da obrigatoriedade, quem sabe surjam umas idéias?

Assistir a Boca Juniors e River Plate no La Bombonera, em Buenos Aires – Ou ao Fla-Flu no Maracanã, a Corinthians e Palmeiras no Pacaembu. Quem não torce ficará impressionado por não mais que 15 minutos. E ainda restarão 75 – de péssima comida e banheiros muito, muito sujos.

Pular de pára-quedas – Ou fazer "bungee jumping". Ou, radicalismo dos radicalismos, praticar o "zorbing", assustadora modalidade em que o praticante é colocado em uma bola gigante, muitas vezes cheia de água, que rola morro abaixo. "Nunca tinha ouvido falar nisso até ler as listas do que fazer. Se você é viciado em adrenalina, faz sentido. Eu sofri um acidente de carro e posso dizer que a sensação é a mesma. Taquicardia, frio e tremedeira. É muito desagradável", descreve Jordison.

Ir a uma praia de nudismo – Além de correr o risco de sofrer queimaduras em áreas nunca dantes bronzeadas, você se sentirá inferior diante de corpos mais bonitos ou constrangido por outros nem tanto. E passará o dia sendo examinado por estranhos.

Tocar em um tigre - "Eu sigo três regras: se uma coisa demanda muito tempo, muito dinheiro ou é perigosa demais, eu evito", disse o produtor de televisão inglês Richard Wilson, autor de Não ligo a mínima.

Ficar rico – Se não ficou até agora...

18.10.08

A lua-de-mel de "Sêo" Nô

Regina Lewinsky
CORRESPONDENTE

Nosso jornal ganha a contribuição de mais uma grande blogueira. Trata-se de Regina Lewinsky, ou Rê, para os íntimos hehehe! Desde o início de nossas atividades, somos fãs desta grande autora, que, a partir de agora, é nossa correspondente em Recife, cidade de excelentes blogueiras. Basta consultar nossa lista de links pra se perceber que a capital pernambucana tá muito bem representada na blogosfera. Rê junta-se ao time que já conta com autoras do calibre de Yvonne, Maristela e Lana, que também é pernambucana, mas foi criada e mora no Rio de Janeiro. Apreciem o estilo refinado de nossa nova contratada.

Este “causo” me foi contado por um amigo, advogado lá da minha terra, com quem eu trabalhava à época. Por ser bizarro demais, haverá quem duvide da sua veracidade, mas quem conhece o comportamento do homem do campo, especialmente o nordestino lá das brenhas do interior, haverá de lhe dar crédito.

"Sêo" Nô era um ancião muito rico, dono de hectares e mais hectares de terras, mas uma pessoa muito simples e apegada ao seu torrão natal, de onde não havia ser humano que o fizesse sair.

Seu advogado e amigo pessoal, inconformado com aquele modo de vida tão restrito pra quem tinha tanta grana, às vezes lhe sugeria uma viagem de recreio pra conhecer o mundo, passear, descontrair, sair da mesmice do pequeno lugarejo onde morava, aconselhando: "Sêo Nô, o senhor é um homem rico, vá aproveitar o dinheiro que tem! O senhor tem muitas terras, muito gado, muitas propriedades, mas não conhece o mundo, plantado aqui nesse interiorzinho brabo! Como é que pode? Eu quisera ter a metade da sua riqueza, pra lhe mostrar como se vive! Vá ver a praia, vá almoçar em restaurantes caros. Como é que pode uma pessoa viver assim, podendo aproveitar ao máximo os prazeres da vida?"

Ao que o velhinho respondia: "Gosto não sinhô, dotô! Tenho medo de cidade grande, num seio nem trevessar uma rua cheia de carro! Nem no Recife eu nunca fui, querdita? Vô não! Deixe eu aqui, home! Se aperreie não, que eu gosto mermo é de tá no meu cantin."

Após ganhar a sua última causa judicial em defesa dos interesses do velhinho, o causídico, atarefado demais, passou a rarear as visitas que lhe fazia e passou alguns anos sem notícias dele, até que um dia, participando de um Congresso Jurídico num hotel 5 estrelas da região, aquele advogado, tendo se dirigido à piscina do hotel pra dar um mergulho e tomar sol antes da reunião vespertina, escutou alguém a lhe chamar pelo nome:

- "Dotô Fulano, ô dotô Fulano”!

Localizando de onde vinha aquela voz, qual não foi a sua surpresa ao deparar com ninguém menos que "Sêo" Nô! Ele não quis acreditar nos seus próprios olhos ... Não era possível que estivesse, mesmo, presenciando aquela cena: "Sêo" Nô, numa cidade diferente e, ainda por cima (surpresa das surpresas!) ... tomando banho de piscina!!! Refazendo-se do choque, aproximou-se do seu antigo cliente e fez a pergunta que não podia calar:

- "Sêo" Nô! O senhor por aqui? Que novidade é essa???

- Pois é, dotô ... Eu fiquei viúvo, me casei-me de novo e tô aqui em lua-de-mé!

Ainda atordoado com todas aquelas novidades, mas curioso por saber mais, pergunta o doutor:

- O quê? D. Maria morreu? E o senhor casou com quem?

- Me casei-me com Mocinha, dotô, o senhor sabe quem é ela ... É aquela que trabaiava lá em casa, como empregada da minha patroa ... Tá lembrado?

Diz o doutor:

- Ah! Sim! Eu me lembro de Mocinha ... Mas cadê ela, pr'eu cumprimentar, dar os parabéns?

- Ah, dotô, Mocinha é muito matuta ... Num quis vir não ... Dixe qui tinha veigonha, espie! Aí eu vim foi sozinho mermo ... Pruquê me dixéro qui a pessoa, hoje em dia, quando se casa, tem que viajar de lua-de-mé, né? Aí eu criei corage e vim. O sinhô num vivia dizendo pr'eu viajar? Tô achando é bom, aqui!

Pois é, gente! Vocês podem até pensar que é piada, mas isso aconteceu, mesmo! E tem mais: eu conheci todos os personagens dessa hilária história.

Por hoje, é só.

Rê Lewinsky também pode ser encontrada aqui.

NOTA DA REDAÇÃO: sabemos que estamos atrasados nas visitas aos blogs amigos. Faremos o possível, mas tivemos que aceitar um serviço extra nos últimos dias, pra poder acertar a folha de pagamento do pessoal, senão ia ter greve!

12.10.08

Loucos e santos


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

5.10.08

Carol Lira volta à blogosfera

Um dos melhores blogs que encontramos neste um ano e meio de Jornal da Lua foi o Menina Lunar. Na época, editado por uma talentosíssima menina que tinha acabado de completar 17 anos. A qualidade do texto era tão boa que gerava dúvidas aqui na redação:

- Não pode ter 17 anos!

Mas tinha! Um fenômeno da natureza! A cada texto, a jovem blogueira do Recife deixava todo mundo pasmo, com sua incrível mistura de prosa e poesia, mostrando um estilo inigualável, rico demais em metáforas e ritmos que certamente arrancariam sorrisos de aprovação de mestres como Neruda, Drummond, Vinícius, Cecília, Bandeira ou Pessoa.

Seu nome: Carol Lira.

Meses atrás, veio a notícia que nenhum de nós queria saber: com o dia todo ocupado por estudo e trabalho, Carol entendeu que era hora de fechar o Menina Lunar. Para manter aquela qualidade, ela precisava de algo que lhe faltava no momento: tempo.

Essa foi a má notícia. Agora, vem a boa: ela voltou! Não mais como Menina Lunar, mas com um blog onde a qualidade dos textos continua de primeira linha, nem precisavam ser assinados. Ali encontramos a primeira e única Carol Lira, com suas mágicas palavras, tecendo seus posts personalíssimos, recheados de cores e sonhos.

A blogueira agora tem 18 anos. Mudou tudo e sua página tem outro nome: Letra Vermelha.

Eu disse "mudou tudo"? Desculpem, engano meu. A beleza de sua prosa poética não muda, é imune à ação do tempo. Tempo que, agora, esperamos que seja mais generoso com ela. E conosco, não nos privando de suas encantadas palavras! Letra Vermelha é leitura obrigatória. Daquelas obrigações que cumprimos com o maior prazer do mundo.