lobo e lua

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31.8.08

Chico PF faz 70 anos

Conheci Chico PF (Francisco Paula Freitas) quando eu morava no Rio de Janeiro, tinha 17 anos e ele ia a caminho dos 40. No ano anterior, fui procurar meu irmão mais velho, Celso Japiassu, e pedi que ele me tirasse de uma enrascada: eu já tinha tomado duas bombas no ginásio, porque não conseguia aprender Matemática, sempre passava colando, na segunda época, e morria de medo do que me esperava à frente: Física e Química!!

Ou seja, eu deveria ter terminado o ginásio com 14 anos, e não com 16! Tudo por causa de minha absoluta incapacidade de aprender Matemática. Eu disse: “Me arruma um emprego, porque não agüento mais estudar e não posso ficar à toa em casa. Você conhece a velha. Ela não vai me deixar em paz!”

Felizmente, Celso entendeu o meu drama e me colocou em contato com um colega publicitário que ia abrir uma empresa própria, chamada Espaço Tempo. Aquela atitude de meu irmão mudou minha vida radicalmente. A partir dali, três pessoas traçaram o meu destino: Chico Paula Freitas, Ademir Ferreira e Arlindo Coutinho.

Chico era o colega publicitário do Celso, com quem consegui meu primeiro emprego, de auxiliar de escritório. No escritório do Chico, conheci o jornalista Ademir Ferreira, que acompanhei em diversas entrevistas, aprendendo na prática como se faz uma reportagem. Também com Ademir, dei meus primeiros passos no Jornalismo, trabalhando com ele na coluna de Carlos Imperial, no extinto jornal Última Hora.

Arlindo Coutinho foi a pessoa que me fez ficar nos trilhos, quando Imperial encerrou seu contrato com a Última Hora e eu não tinha um caminho a seguir. Ele era divulgador da antiga CBS (hoje Sony Music) e me passava diariamente um bom noticiário que eu publicava na coluna do Imperial. Tudo por telefone. No dia em que Imperial anunciou o fim da coluna, liguei pro Coutinho, pra me despedir.

- E o que você vai fazer agora?
- Não tenho a mínima idéia!
- Então, passa aqui amanhã, que vou te levar na Editora Vecchi. Sei que lá tem uma vaga de repórter.

Eu fui, e vi Arlindo Coutinho pela primeira vez. Se alguém duvida que exista alguém generoso, alguém altruísta no mundo, precisa conhecer Arlindo Coutinho, que hoje faz palestras pelo Brasil, falando sobre sua maior paixão (depois da Ferrari e do Fluminense hehehe!): o jazz! É uma figura que mora para sempre em minhas lembranças e em meu coração.

Mas, tudo começou com Celso me dando o endereço do escritório do Chico. Lembro que, na nossa entrevista inicial, falamos de cinema. Ele me falou de uma cena de “A Doce Vida”, de Fellini, em que um personagem, aparentemente bem de vida e tranqüilo, de repente dava um tiro na cabeça. E ficamos filosofando sobre a espécie humana.

O escritório era na Avenida Rio Branco, no Edifício Marquês de Herval. Eu saia de Ipanema, descia na Praça XV, pegava a Avenida Almirante Barroso, passava pela Rua México e chegava ao prédio, bem na esquina. Um dia, Chico me chamou. Tinha uns poemas e queria me mostrar. Eu gostei tanto que copiei alguns pra mim. Tenho até hoje. Foi naquele dia que percebi o amor que ele tinha pela poesia, pelos livros, pela arte, desde que esta arte servisse não para distrair, mas para refletir os problemas humanos, para ajudar na criação de um novo homem, um novo mundo.

Chico era um revolucionário, disfarçado de publicitário de terno e gravata, em plena ditadura militar no Brasil. Nunca pegou em armas, nem nunca o vi pregando qualquer tipo de violência. Mas, quando eu aparecia pra almoçar na casa dele, numa simpática rua no bairro do Méier, sempre saia de lá com livros dos ídolos dele, discursos de Fidel, de Mao, poesias de Neruda... Chico era um esquerdista convicto, tendo que trabalhar para capitalistas, tendo que vender produtos desses capitalistas que ele tanto detestava!

Um dia, vi no jornal que ia passar no Museu de Arte Moderna um filme de um cineasta japonês consagrado, mas que eu não conhecia: era “Dodeskaden”, de Akira Kurosawa. Fui até a sala do Chico e perguntei se ele me recomendava o filme. “Não só recomendo, como vou com você ver este filme hoje. É um gênio!”

Muita gente sabia que Kurosawa era um gênio. A sala tava lotada, tivemos que ficar em pé. Eu, de calça jeans e camiseta, acabei sentando no chão. Chico, de paletó e gravata, preferiu ficar em pé, mas, de vez em quando, comentava algo, como: “A música, ouça a música ao fundo!”

Com o tempo, mesmo depois que não trabalhava mais com ele, mas a amizade prosseguia, observei que aquele publicitário bem sucedido, que andava de Mercedes Benz, só se sentia bem ao lado de pessoas comuns, representantes legítimos da grande maioria do povo brasileiro. Para ele, a Zona Sul era “o Rio dos turistas, o verdadeiro Rio é onde morou Lima Barreto.”

Um dia, me levou pra conhecer Vila Isabel, “a terra de Noel Rosa”. De repente, passou pela rua um sujeito barrigudo, de camiseta e bermuda, levando uma sacola de feira na mão. Chico me mostrou a figura e disse: “Sabe quem é aquele? É o Dunga, que fez a letra de ‘Conceição’, o maior sucesso de Cauby Peixoto.” Chico conhecia todos os artistas daquela região, os famosos e os sem fama.

Por tudo que eu conhecia do Chico, não foi surpresa pra mim quando vi os temas de seus dois livros lançados até agora, “Os suicidas se atiram de pés descalços” (poesias) e “Café e Bar Ponto Chic” (contos), este em catálogo pela Editora Bertrand Brasil. Seus personagens são as pessoas que ele admira, aquelas que Dostoievski chamava de “Humilhados e Ofendidos”.

São mecânicos, garçons, pintores de parede, pedreiros, sapateiros, manicures, motoristas, enfermeiros, costureiras, faxineiras, jardineiros, ajudantes de cozinha, cozinheiras, gente do subúrbio do Rio de Janeiro, que mora em casas pequenas, sem ajuda de ninguém. Gente pobre, honesta e trabalhadora, que se reúne nos raros momentos de folga pra cantar samba, pra dançar nos morros, como se a vida fosse um paraíso eterno.

Esses são os heróis de Chico Paula Freitas. Ele me fez ver que esses eram os heróis. Por essa lição simples, mas fundamental, foi primeiramente nele que pensei na hora de criar os personagens do Jornal da Lua. Porque, se hoje eu sei quem são os heróis, sei que Chico Paula Freitas também é meu herói, que sobe o morro e dança junto com essa gente humilde, me dando mais uma impressionante lição de vida: precisamos rir de nossos problemas!

No dia 8 de setembro de 2008, Chico Paula Freitas faz 70 anos. Deveria ser reverenciado como um grande contista, um grande artista, um grande humanista! Mas, provavelmente, vai apenas pra um boteco no subúrbio carioca, cumprimentar o povo que ele tanto admira e perguntar pra cozinheira qual é o grande prato do dia.

24.8.08

Ditados do século XXI

Flávia Menezes
ESPECIAL PARA O JORNAL DA LUA

01. A pressa é inimiga da conexão.

02. Amigos, amigos, senhas à parte.

03. Antes só que em chats aborrecidos.

04. A arquivo dado não se olha o formato.

05. Diga-me que chat freqüentas e te direi quem és.

06. Para bom provedor, uma senha basta.

07. Não adianta chorar sobre arquivo deletado.

08. Em briga de namorados virtuais não se mete o mouse.

09. Em terra off-line, quem tem discada é rei.

10. Hacker que ladra não morde.

11. Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.

12. Mouse sujo se limpa em casa.

13. Melhor prevenir do que formatar.

14. Quando a esmola é demais, tem vírus anexado.

15. Quando um não quer, dois não teclam.

16. Quem ama um 486, Core Duo lhe parece.

17. Quem clica, seus males multiplica.

18. Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.

19. Quem envia o que quer, recebe o que não quer.

20. Quem não tem banda larga, caça com discada.

21. Quem nunca errou, que aperte a primeira tecla.

22. Quem semeia e-mails, colhe spams.

23. Quem tem dedo vai a Roma.com.

24. Um é pouco, dois é bom, três é chat.

25. Vão-se os arquivos, ficam os back-ups.

26. Barato sai caro e lento.

Flávia Menezes edita o blog Do Sétimo Andar

17.8.08

Vem aí a Rephorma Ortográphica

Kamilla Barcelos
BLOGUEIRA CONVIDADA

Quem é antenado com as notícias já está sabendo que vem aí uma reforma ortográfica na língua portuguesa, com o intuito de unificar o idioma de todos os países que falam português.

Quem leu essa minha última frase e imaginou "que bom, agora finalmente aprenderei ortografia, pois tudo ficará mais fácil!", enganou-se redondamente. Além disso, quem vive em um mundo capitalista já imagina que o vil metal é que comanda essa reforma.

Se já não bastasse eu ter nascido no século passado, agora terei realmente uma escrita arcaica, digna de pessoa passada. Eu me lembro que várias vezes eu procurava livros de História aqui em casa para fazer algum trabalho e discriminava aqueles com linguagem antiga, do tipo que escrevia "agôsto" no lugar de "agosto". Até hoje o meu avô escreve dessa forma e eu vivo achando estranho. A partir do ano que vem, entrarei para o clube dele: "ARCAICOS S.A.".

Sempre gostei de Português, mas acontecia várias vezes que eu errava alguns detalhes, como hífen e o trema, este que para mim só existiu até a minha quarta série, porque minha professora obrigava. Agora me pergunto: "Será que posso processar as minhas professoras que viviam me corrigindo quando eu os errava?"

A única reforma que eu apoio é retirar o trema, mesmo porque, para mim e para a grande maioria dos estudantes brasileiros, já estava extinto faz tempo. Já vai tarde! No entanto, ficará uma salada aprender a colocar hífen, pois, o que agora é "anti-religioso", com a reforma será "antirreligioso". O tão utilizado "microondas" será "micro-ondas".

"Idéia" não terá mais acento agudo. Do jeito que gosto de escrever essa palavra, acho que não a escreverei mais. Redigirei somente a palavra "pensamento" no seu lugar, ou não terei "ideia" alguma. Revoltei totalmente com a parte de tirar alguns acentos diferenciais. Que pensamento mais sem sentido! Se o acento é para diferenciar, não há motivo para tirá-lo. Por exemplo: na frase anterior, eu utilizei a palavra "para", que atualmente nós sabemos com clareza que é uma preposição, e não do verbo parar, porque não tem o acento. Com a reforma, não existirá esse acento. O que vai ter de ambiguidade por causa disso não está (ainda!) escrito!

Eu era revoltada com o meu nome e, com a bela reforma ortográfica que acontecerá, não terei mais argumentos para mudar no cartório. Pois, finalmente, as letras "k", "w" e "y" entrarão para o nosso alfabeto.

Ainda bem, porque até do meu próprio alfabeto eu era excluída.

Kamilla Barcelos tem 17 anos e é a criativa editora do blog Mundo Efêmero, um dos nossos grandes favoritos

13.8.08

Os que ganham e os que perdem

Nossa correspondente em Guarapari, Yvonne da Lua, passeava pela praia quando encontrou um jornal aberto na página da coluna do cronista esportivo Juca Kfouri. Leu e mandou o artigo, que reproduzimos aqui:

Os Jogos da hipocrisia

"Por que você não foi para Pequim?", perguntam. "Porque não quis", respondo. Mais: estou entrando em férias e só volto aqui no dia 21. Claro que verei a Olimpíada e até comentarei no blog, mas ando cheio de tanta hipocrisia, a começar pela caça aos que são pegos no antidoping por hábitos que só fazem mal e pioram o rendimento. Não aceito ver essa cartolagem imunda da família olímpica no papel de fiscal dos hábitos da juventude e, ainda por cima, expondo jovens à execração pública, como acabam de fazer com um jogador do handebol brasileiro.

Como não suporto o ufanismo da maior parte das narrações, com as exceções de praxe para os felizardos que podem assinar um canal de televisão fechada, razão pela qual darei uma fugidinha do país para acompanhar Pequim de uma cidadezinha colonial mexicana apaixonante chamada Guanajuato.

Porque passa do limite ver um Carlos Nuzman fazer quase o elogio da poluição ou se jactar pela maior delegação brasileira da história, quando só 12% de nossa rede escolar tem quadras de esporte. Aliás, quanto mais medalhas o Brasil ganhar, mais ficará demonstrado o desvio de sua não-política esportiva, porque privilegia o alto rendimento em vez da inclusão social ou a saúde pública por meio da prática de esportes. Dá engulhos ver a cartolagem em hotéis de até sete estrelas enchendo a boca para dizer que esporte e política não se misturam, quando nada foi mais político do que escolher Pequim para receber os Jogos, cidade que, além de poluída, é uma capital que se notabiliza por cercear direitos básicos da cidadania.

Tudo por dinheiro, tão simples assim. Porque a China talvez seja o melhor exemplo, com todas as suas contradições, de como ainda não se achou um sistema razoável, tão óbvias são as mazelas do comunismo e do capitalismo reais. É claro que verei tudo, é claro que me emocionarei com as vitórias brasileiras, como com a festa de abertura. É evidente que torcerei para que aconteçam triunfos como nunca, porque tenho a surpreendente capacidade (surpreende a mim mesmo, diga-se) de voltar a ser criança a cada competição em seu apito inicial. E não é de hoje.

Faço assim com os jogos de futebol lá se vão bem uns 26 anos, depois que se revelou a existência da chamada "Máfia da Loteria Esportiva". Porque paixão é paixão e não se explica, não se racionaliza, se sente. E se curte. Sim, eu sei que serei capaz de me comover às lágrimas até com a superação de um atleta que não seja conterrâneo, como já me aconteceu inúmeras vezes.

Mas é preciso que se diga que mais que em Atlanta, quando os Jogos Olímpicos modernos comemoraram cem anos e a Coca-Cola alijou Atenas de recebê-los num crime contra a história, esta edição chinesa é um soco em quem associa o esporte à saúde e à liberdade. Lamento sentir assim, mas quem viveu a inesquecível festa de Barcelona-1992, cujos equipamentos até hoje são utilizados por quem os pagou, os catalães, além da hospitalidade que recebeu o mundo tão bem, não pode engolir Pequim-2008.

10.8.08

"Computadores são femininos", diz cientista

De acordo com a revista Nature Chemical deste mês, um cientista polonês, Manuel Joaquim Vieira de Souza, descobriu que “computadores são femininos”.

A nova descoberta se baseia nos seguintes princípios:

* Sempre que se arranja uma máquina, logo aparece outra melhor.
* Ninguém é capaz de entender a sua lógica.
* É difícil entender as mensagens que nos dão.
* Depois que você consegue uma, ela gasta metade do seu salário em acessórios.

3.8.08

Quadrinhos do Jornal da Lua

Lana Esthevlana mandou uma historinha:

" - Por que o Batman colocou o Batmóvel no seguro?

- Porque ele tem medo que Robin."

E eu lembrei de outra, do tempo em que os Beatles estavam no auge:

"- Alô, George, o Ringo Starr?

- Não, Ringo foi Paul McCartney no correio.

- Para quem?

- Para John!

- John? Mas John não sabe Lennon!"