lobo e lua

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10.11.10

Música

Letícia Panichi
BLOGUEIRA CONVIDADA


"A música é o maior mistério do mundo. Como combinações sonoras e melodias resultam naquilo que eu, e muitos outros, não conseguem passar um dia sem ouvir? Independente da letra, do tipo musical ou até mesmo da batida, só é preciso que haja aquele efeito no corpo. Aquele que fará você mudar de sensação, passando para um mundo paralelo. Aquele que colocará um sorriso em seu rosto, ou até mesmo lágrimas nos olhos. Aquele que fará suas pernas saírem dançando a cada compasso do ritmo. Aquele que, com certeza, é o melhor curativo para qualquer ferida emocional.

Depois de anos de conturbadas mudanças musicais, os anos 60, 70, 80 e até os 90, o mundo esqueceu o que é musica - exilando os poucos que ainda se salvam. Música não é qualquer grito, ou qualquer palavra dita em um ritmo que não combina, que não transmite efeito nenhum, nenhum mísero sentimento. Não é preciso apenas ter um rosto bonitinho para se tornar músico.

É mais que isso. Me sinto ofendida pelos grandes nomes da música que são obrigados a ter a mesma profissão que muitos que não batalham para conseguir. Nomes como Elton John, os próprios - e meus amados - Beatles, Eric Clapton, Creedence Clearwater, Led Zeppelin, Cazuza, Cássia Eller, Janis Joplin, Aretha Franklin, Michael Jackson, U2, Rolling Stones, Rita Lee, Chico Buarque, Etta James, Bob Marley, entre inúmeros outros que possuem o grande reconhecimento que têm do mundo. Não precisa gostar da música deles, mas é preciso que saiba reconhecer o que eles foram e o que eles são para o mundo.

Vivo em um lugar em que o sentimento musical, de revolta, de paz, de amor, de ódio, de ilusão e de desilusão deram lugar para palavras sem nexo jogadas no ar. As letras são sempre as mesmas, os acordes variam entre C e D, nada mais que isso. Nenhum sentimento de satisfação, nada.

Não posso os culpar, estamos localizados em uma década de nada de importante à História. Nada mesmo. A música é a expressão do que sentimos e do que estamos vivendo. Quando não há nada de novo acontecendo, não há sobre o que cantar, além de "Como eu te amo baby baby", "Vem ser minha yeah yeah", "Sou foda, me adora".

Me envergonho de que no futuro irei contar de como as músicas da minha época não transmitiam sentimento algum, apenas uma ou outra que faziam sentir algo diferente, nada além disso. Cresci ouvindo histórias de como Chico Buarque, Caetano e Milton cantavam contra a ditadura para as pessoas, para a própria liberdade de expressão, para quem pudesse escutar o grito de socorro deles.

No futuro, irei contar como Cine queria ser completado por uma garota radical, como Créu chegava na velocidade número 5, como a Dança do Quadrado tinha diversas variações, como Restart tinha uma família que era uma puta falta de sacanagem, como Justin Bieber era um Baby baby ooh, como todas as bandas disputavam quem falava mais besteiras e mais letras melosas, como eu vivi em uma época que não contribuiu em nada para a expressão da sociedade, como me sinto mal por isso e de como eles não tinham sobre o que cantar, já que o mundo estava cada vez mais monótono e perdido.

Não serei hipócrita de negar que escuto - e até gosto - de músicas que tocam nas rádios. Gosto sim, escuto sim, mas sei perfeitamente a distinção de música que levarei no meu mp3, mp4, iPod, o que for, e de música que levarei pra vida. Com toda a certeza de que, se você procurar em todas as rádios do mundo inteiro, você não irá achar música para levar para a sua vida. Se achar, me avise, que eu apago toda essa meia hora perdida digitando de como a música perdeu seu verdadeiro sentido para ser algo totalmente irrelevante."

Letícia Panichi, 17 anos, é blogueira e tuiteira do primeiro time e pode ser encontrada aqui.