lobo e lua

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21.9.09

O poder da burrice

“Duas coisas são infinitas: o Universo e a burrice humana. Mas, a respeito do Universo ainda tenho dúvidas", disse Albert Einstein. Componente inalienável da natureza humana, a burrice é, provavelmente, a força mais perigosa do Cosmos.

O que significa burrice? O conceito não tem uma definição teórica indiscutível. Não é o oposto de inteligência: há pessoas inteligentes que, vez por outra, fazem o papel de burras. Uma definição convincente foi dada pelo historiador e economista italiano Carlo Cipolla: “Uma pessoa burra é aquela que causa algum dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas sem obter nenhuma vantagem para si mesmo – ou até mesmo se prejudicando.”

A burrice tem a peculiar vocação de se traduzir em ações, e por isso mesmo se torna perigosa. Segundo Cipolla, que identificou cinco “leis fundamentais da burrice”, até mesmo os mais inteligentes tendem a desvalorizar os riscos inerentes à burrice. E ela é mais perigosa que a crueldade: esta, tendo uma lógica compreensível, pode pelo menos ser prevista e enfrentada. Para começar, pensemos naqueles que, em tempos de Aids, mantêm relações sexuais sem proteção ou nos que não usam um antivírus no próprio computador, expondo a si mesmos e aos outros ao contágio de vírus reais ou virtuais.

A burrice sempre ofereceu cenas e personagens cômicos, como no conto de Andersen, “A roupa nova do imperador”, no qual dois alfaiates mal-intencionados convencem o rei a vestir uma roupa maravilhosa, invisível para as pessoas burras. Era uma armadilha: ninguém queria admitir a própria burrice nem contradizer o soberano, afirmando não ver a roupa (que de fato não existia). Só um menino teve a coragem de dizer que o rei estava nu, revelando a trapaça. Mas, atenção: rir da burrice pode deixá-la “simpática” e, portanto, desvalorizada. Se na ficção o estúpido é facilmente reconhecido, na vida real as coisas são diferentes.

A burrice tem três características fundamentais:

1) Ela é inconsciente e recidiva: o burro não sabe que é burro e tende a repetir várias vezes o mesmo erro. Tais características contribuem para dar mais força e eficácia à ação devastadora da burrice. A pessoa estúpida não reconhece os próprios limites, fica fossilizada em suas convicções particulares e não sabe mudar. Por isso, como diz o psicólogo italiano Luigi Anolli, “no âmbito clínico, a burrice é a pior doença, por ser incurável”. O estúpido é levado a repetir os mesmos comportamentos porque não é capaz de entender o estrago que faz e, portanto, não consegue se corrigir.

2) A burrice é contagiosa. As multidões são muito mais estúpidas que as pessoas que as compõem. Isso explica porque populações inteiras (como aconteceu na Alemanha nazista ou na Itália fascista) podem ser facilmente condicionadas a perseguir objetivos insanos, um fenômeno bastante conhecido na psicologia. “O contágio emotivo próprio do grupo diminui a capacidade crítica”, explica Anolli. “Percebe-se a polarização da tomada de decisão: escolhe-se a solução mais simples, que na maioria das vezes é a menos inteligente.”

3) Além da coletividade, há um outro fator que amplifica a burrice: estar numa posição de comando. “O poder emburrece”, afirmava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Por quê? Quando estão no poder, as pessoas muitas vezes são induzidas a pensar que, justamente por ocuparem aquele posto, são melhores, mais capazes, mais inteligentes e mais sábias que o resto da humanidade. Além disso, estão cercadas de aduladores, seguidores e aproveitadores que reforçam o tempo todo essa ilusão. Dessa forma, quem está no governo chega a cometer as mais graves faltas com a aprovação geral.

Há pessoas que chegam incrivelmente perto da verdade sobre si mesmas e a respeito do mundo. Elas têm uma percepção equilibrada, são imparciais quando se trata de atribuir responsabilidades de sucessos e fracassos e fazem previsões realistas para o futuro. Testemunhas vivas do quanto é arriscado conhecer a si mesmas, elas são, para muitos psicólogos, pessoas clinicamente depressivas. Martin Seligman, docente de psicologia na Universidade da Pensilvânia (EUA), demonstrou que o chamado “estilo explicativo” pessimista é comum entre os deprimidos: quando fracassam, assumem toda a culpa, consideram-se burros, péssimos em tudo e se convencem de que essa situação vai durar para sempre.

E quais são os resultados de tanta (às vezes excessiva) honestidade intelectual? Deborah Danner, pesquisadora da Universidade de Kentucky (EUA), examinou os efeitos da longevidade em 180 noviças norte-americanas, otimistas e pessimistas. Quanto mais otimistas se mostravam as religiosas, mais tempo viviam. As mais joviais viveram em média uma década além das pessimistas.

É claro que ser realistas e ao mesmo tempo serenos e otimistas seria o ideal; mas não há dúvida de que às vezes um pouco de burrice faz bem.

Colaboração de Fernanda Magalhães, do blog Comportamento Real

30 comentários:

Anônimo disse...

Eu só sei de uma coisa:Os burros é que são felizes!

Anônimo disse...

Oi Bill, obrigado por mais uma visita sua no meu blog! Este post está muito interessante... Já tinha pensado várias vezes que a burrice é a coisa mais triste que existe e mais prejudicial ao mundo... É mesmo como você descreveu; um burro não tem a noção que está fazendo burrice, o que dificulta que ele reconheça os seus erros e culpe apenas as outras pessoas pelos erros delas. A burrice é uma grande criadora de desentendimentos e conflitos entre as pessoas. Ela ofusca quem está sendo burro, fazendo com que o indivíduo fique convencido que está concretizando algo muito certo... A burrice deve continuar a mandar no mundo. Penso que todos nós temos um pouco de burrice, de vez em quando. É normal, mas convém não ter em demasia e tentar ser por vezes um cara, daqueles que você falou, que se auto-analisa e percebe o que está fazendo de errado; embora haja a tendência para ter o tal pessimismo porque se percebe quanta burrice existe por aí... O ideal, como você falou, seria conseguir dosear melhor essas várias características...
Abraço pra você, Bill. Fique bem!

Cris Medeiros disse...

Queridoooooo!!! Fantástico seu post! Acho que dos melhores que li de vc até hoje!

Acho exatamente tudo isso e te digo mais, existem duas inteligências a prática e a emocional... Ou seja, tem pessoas que tem capacidades infinitas pra aprender sobre assuntos do tipo matemática, economia, ciências, etc e etc... Mas não tem a menor habilidade pra dirigir sua própria vida, são os inteligentes, mas burros emocionais... rs

Eu sei bem do que estou falando, vai por mim! ahahah

Beijocas e vou guardar esse post aqui no meu PC!

Betty Vernieri disse...

Bill,

A burruice humana é assustadora, muitas vezes, me faz sentir medo.

Li - agora não lembro onde nem quem escreveu - que o ser humano é o único animal que esbarra duas ou mais vezes no mesmo lugar.

Momentos esporádicos de burrice todos temos, dá para para tolerar, porém quando é permanente torna-se um perigo, para quem é burro e para sociedade.

beijinho

Natália Mylonas disse...

Não sei o que seria da vida senão fosse a burrice.
Burrice é quando vc não domina o determinado assunto.
E sim, ela eh contagiosa. rs*

E não existe gnt burra, existe quem se faça de burra !

beiiiiiiiiiiijos

Desabafando disse...

Nossa...adorei as explicações sobre esse tema...

acho sim que há uma tendência maior a que pessoas poderosas cometam maiores burrices e relutem em aceitar essas burrices justamente por se acharem melhores...

concordo também que em grupo é mais fácil fazer e bancar o burro pois sempre haverá alguém apoiando o burro e a atitude do burro...rsrsrsrs....

me fez pensar muito....adorei
Boa semana! E obrigada por sempre passar lá no meu cantinho e deixar excelentes comentários!

Fernanda Magalhães disse...

A burrice é contagiosa. As multidões são muito mais estúpidas que as pessoas que as compõem.


Verdade verdadeira grande Falcão!!

Bjos querido!

† Samurai † disse...

Oláááá!!

tem Meme pra vc lá no meu blog ^^

And here we go again!!
Beijos da Samurai

Carolina disse...

Muito bom o post, Bill!
Tenho uma certa resistência em chamar alguém de burro, porque as pessoas ligam a burrice como oposto de inteligência.
Mas o teu texto elucida bem os fatos.
E, quantas vezes quis passar de burra para não enxergar aqui que estava ali bem exposto..

bjos meus

Letícia disse...

Muuuito interessante essa matéria! Gostei msm.
Mas acho q burrice é uma coisa relativa como tantas outras coisas na nossa vida...

:*

Fee disse...

"Quem dera eu fosse burro, só assim eu não sofria tanto"

Já disse Raulzito. rsrs

Agatha Alves disse...

tem um selo pra vc la no meu blog viu

beijos

Anônimo disse...

Muuuuito bom seu post!
Comecei rindo pelo titulo..
Que burrice a minha, não saber nem metaaade das coisas escritas ai! rs

Adorei o blog, beijão!

Laís disse...

ótimo post!
Já que se entender também não traz um bom resultado,talvez a burrice seja o caminho,a ignorância nos deixa cegos e criamos nossa própria estupidez...Acho que o pior de ser burro é a maneira como adquirimos a burrice.
beijo

Eri disse...

senti-me homenageada

Eri disse...

senti-me homenageada

Lu disse...

eu já tentei escrever sobre a burrice uma vez, mas me irritei.
você conseguiu explanar todos os meus pensamentos sobre a dita cuja com tanta precisão, que chego a sentir uma pontinha de inveja!

;)

tenho pavor de burrice e temo por essa sociedade cada vez mais atolada nessa lama dominada por ela.

beijoos bill!
=**

Lugirão disse...

Bill, uma coisa é certa; o poder emburrece.

Tem selo para você no Voz.

Beijos.

Nati Pereira disse...

Não é bem burrice e sim falta de inteligencia. beijos

Anna Vitória disse...

Muito bom o post, muito mesmo! Conseguiu definir perfeitamente o conceito que eu tenho de burrice, coisa que eu nunca consegui por em palavras.
beijos

Agatha Alves disse...

nossa muito interessante o post
mas é assim, um pouco de burrice eh bom, da masi graça para a vida rs

beijos

Patrícia disse...

A burrice é mesmo infinita!

Beijo Bill!

Kamilla Barcelos disse...

Esse conto de Andersen sempre foi o meu preferido!
A burrice é tão essencial quanta a inteligência, mesmo que se um na existisse o outro não teria tanta importância!

Dani Pedroza disse...

Já que estamos diante de um tratado sobre a burrice, vamos combinar uma coisa, vc me deixa continuar na ilusão de não ser burra... ops... Se eu sei que a ideia de não ser burra é uma ilusão, quer dizer que não sou tão burra assim, certo? Quer saber? Melhor parar por aqui antes que eu comece a duvidar do meu nome... rs... rs. Bjs, querido !!!

ARMANDO MAYNARD disse...

Caro Bill, a idiotice atravanca o progresso. Esse mal que costuma atacar certas pessoas, principalmente quando da ascensão ao poder, a exemplo de alguns políticos no executivo e legislativo, que se mostram teimosos, intransigentes, cabeça dura, não aceitando conselhos nem opiniões de seus assessores, muito menos críticas de estranhos, principalmente quando vindas da imprensa. Contam ainda com a ajuda perniciosa dos “puxa sacos” que os rodeiam, fazendo com que o idiota se sinta seguro e faça as coisas do seu jeito, ao seu modo e como bem entende. Resultado, é que acabam metendo os pés pelas mãos, entrando em enrascadas e sempre passando por grandes vexames. São tão tolos, que são manipulados, sendo objetos de manobra, por darem intimidade e credibilidade a falsos amigos, se afastando dos sinceros, que já os conheciam a um longo tempo. Infelizmente, inteligência e perspicácia são privilégios de alguns, que foram favorecidos pela natureza através da genética, juntamente com a educação dos pais, o ambiente que foi criado, o estudo, as leituras e que sempre procuraram ouvir o outro. Há indivíduos que se acham bastante espertos, usando da mentira para contar vantagens e tirar proveito de situações, certos de que enganarão seu interlocutor, não percebendo que a quem pretendiam enganar, já tinha descoberto desde o início da conversa, que estava sendo enganado, mas que por educação, não quis demonstrar, evitando constrangimento. Esse é o típico do mentiroso imbecil, que nem fica sabendo do seu ridículo papel. Mas como para tudo tem jeito, se o idiota conseguir ter um pouquinho de discernimento e humildade, poderá aprender no dia a dia, analisando seus erros e observando ao seu redor. Com o passar do tempo, aos poucos irá se corrigindo, fazendo com que passe a ficar menos bobo, ingênuo e deixe de ser simplório, presunçoso, palerma e principalmente de ser BURRO. Um abraço, Armando.

Barbara disse...

Estarei a contar quantas vezes ou como já fui e sou capaz de tamanhas burrices, ou outras.
Honestamente de repente acho que ninguém escapa...totalmente não.

Luma Rosa disse...

Pessimistas inteligentes e os burros otimistas, não sei qual o mais chato! Enfim, ser burro ou inteligente, não atesta característica que define caráter. Bom fim de semana! Beijus

Dora Casado disse...

A burrice é complexa. Às vezes, gente inteligente age de maneira "burra". Mas, preciso te confessar, Bill... na verdade, sempre achei que não existem pessoas sem inteligência. Acho que nem sempre as pessoas conseguem enxergar certas atitudes inteligentes e, na maioria das vezes, por puro preconceito.
As maiorias são burras, dizem e acho que há um pouco de verdade nisso.
Sobre a depressão e a burrice, ainda um dia desses eu lia que comportamentos depressivos seriam "bons" para melhorar a capacidade analítica de muita gente... já em relação à autoestima... "não há dúvida de que às vezes um pouco de burrice faz bem"... rs rs
Outro cheiro bem grande.

Unknown disse...

O Burro não sabe reconhecer o momento certo de retroceder...Por isso continua errando sempre!

Aninha Melo disse...

Parabens pelo blog! Passa la no meu depois tbem:sodescobrindo.blogspot.com