
Rúbia Gondim
Rúbia Gondim
(Para meu pai)
É pouco provável que o pai do leitor ou da leitora saiba tricotar.
Trabalho, passatempo, vício, tricô é coisa de... mulher.
Meu pai, com suas mãos ásperas de operário da construção civil, ignorou esse estigma e aprendeu a dominar as agulhas de tricô. O fio de lã, passando de uma agulha a outra, permite a execução de dois tipos de ponto que servem de base a grande variedade de padrões, define o “Aurélio”. Mas a leitura do dicionário é insuficiente para alguém aprender a fazer; é preciso prestar atenção em outra pessoa que já tricota, depois treinar e treinar.
O início, para ele, foi por acaso, numa das longas fases de afastamento do trabalho motivadas pela doença de Chagas, que o levaria desta vida antes dos 60 anos.Uma de minhas irmãs treinava com as agulhas, enquanto meu pai lia o seu jornal kardecista. Um olho nas páginas, outro nas mãos da filha, nas agulhas que iam e viam, depois voltavam ao início formando a teia.
Nos dias seguintes ele continuou a observação, sempre sentado na mesma cadeira diante da filha. Aprendeu todos os detalhes: a posição das mãos, a altura em que deveria manter a peça diante dos olhos, a trajetória das agulhas, seus volteios, quando fazer inserção única ou dupla nas carreiras, etc.
Uma tarde ele esperou a filha levantar-se da cadeira para ir à cozinha ou cuidar de outro afazer. Então pegou os novelos de lã, as agulhas e começou a atravessá-las na peça com movimentos sincronizados, comparando de tempo em tempo o resultado do trabalho com o já produzido pela titular do serviço.
Estava bem concentrado quando a dona do tricô retornou à sala. Entregou-lhe os apetrechos e, meio sem graça, reiniciou a leitura do jornal. A filha procurou algum estrago em seu tricô e não encontrou. Apenas desconfiou que não havia interrompido o trabalho naquele ponto. Se, naquele momento, tivesse prestado atenção no homem à sua frente, veria seu meio-sorriso de satisfação.Talvez até pudesse ler em seus olhos que ele achara muito mais fácil aprender a tricotar do que levantar paredes e fazer o acabamento das obras – e nisso ele era mestre.
Tricotar era bem mais fácil e deixava a cabeça leve, os problemas esquecidos horas e horas numa parte escura da memória.
Assim, ele aprendeu a produzir sapatinhos e fez um par, de lã azul-clarinha, para o primeiro neto. Depois tricotou uma blusinha de mangas compridas da mesma cor para o bebê.
Os filhos se surpreenderam só um pouco com a nova diversão do pai. Bem melhor que o vício do cigarro, cultivado desde a juventude e só abandonado poucos anos atrás, depois de muitas ameaças dos médicos.
Não durou muito o gosto pelo tricô, mas valeu como mais uma demonstração de versatilidade daquele homem que aprendeu a tocar violão de ouvido, tinha sempre um livro à mão e evitava ensinar o significado das palavras (“Meu filho, consulte o nosso dicionário e aproveite para aprender mais, lendo também o sinônimo da palavra que vem antes e o daquela que vem depois dessa que você procura”).
Desconhecia a barreira que naquela época impedia a maioria dos homens de assumir o fogão e preparava deliciosos bolos e broas de fubá no forno a lenha, e depois no fogão a gás. “Não comam quente porque terão dor de barriga”, dizia, depois de conferir o cozimento enfiando o cabo do garfo na massa, quase deixando ler em seus olhos o real objetivo da advertência, que era o de manter os apressados a distância do fogão.
Ficou também a lembrança dos escassos períodos em que meu pai, depois dos 40, tinha condições de trabalhar. Nesses dias, levantava mais cedo cantando modinhas antigas e preparava um feijão tropeiro legítimo, com todos os ingredientes proibidos pelo médico.
Nunca mais comi feijão tropeiro com aquele delicioso sabor de transgressão, e até hoje não sei de ninguém que use com a mesma competência a colher de pedreiro e a agulha de tricô.
Ivani Cunha é jornalista em Belo Horizonte
Pode um amor durar 40 anos? Ou mais? Sem ficar antigo, sem envelhecer? Pode alguém esperar tanto tempo pela volta desse amor? Pode alguém acreditar que príncipes e princesas não vão virar sapos? O amor de um menino e uma menina pode continuar brilhando como uma pérola quando eles se reencontram muitos anos depois?
É possível sofrer por alguém na juventude e depois sorrir ao lado dessa mesma pessoa anos depois? É possível amar e ficar quietinho, sem que a pessoa amada saiba desse amor? Quantos tipos de amores você conhece?
Aquele amor que escrevia cartas e não entregava? Que te olhava de longe e você não percebia? Que fazia redações no colégio pra você, mas você nunca leu?
Janis Joplin, em sua curta carreira profissional (1967-1970), conseguiu cantar sobre quase todos os tipos de amores. Ou todos, quem sabe? O tempo foi pouco, mas ela se entregava de tal forma às canções que seu estilo marcou não apenas uma geração. Marcou a arte de cantar. De uma forma que só ela sabia.
Janis morreu aos 27 anos, no dia 4 de outubro de 1970, pouco depois da morte de outra lenda do rock, Jimi Hendrix, em 18 de setembro. Era o anúncio do fim da era Flower Power. O fim de um sonho.
Mas quem disse que não devíamos mais sonhar, John Lennon, no ano seguinte voltou pra dizer que era sim um sonhador e você devia imaginar um mundo melhor. Como nas canções de amor de Janis. Que cantava a solidão e a dor, mas também a esperança de que o amor perdido no tempo pudesse um dia ser encontrado. Ela tinha o apelido de Pearl, Pérola. E então não morre.
Brilha para sempre.
Eu era filho único e, quando era pequeno, ainda não sabia nem ler, já ajudava minha mãe a separar as muitas letrinhas daquelas massinhas de fazer sopa. Era demorado, vinha muito a-e-i-o-u, mas as letras dele eram mais difíceis, o J então! Tem poucas palavras com a letra jota, não é, doutor? Acho que é por isso que vinham poucas. Em cada meio quilo só umas trinta ou quarenta, já do V vinha mais...
É isso mesmo que eu estou dizendo ao senhor: minha mãe fazia sopa de letrinhas para o meu pai só usando o J e o V, que são as iniciais do nome dele. Não jogava o resto fora, com as que sobravam, em outra panela, ela fazia para nós. Na hora dele jantar eu ficava de antena ligada só para ouvir a conversa, mas não pegava quase nada. Só dava para perceber que eles eram felizes porque riam muito. Agora eu pergunto: isso é ou não é malandragem? Ter uma mulher que faz sopa de letrinhas só com as iniciais do seu nome!
O doutor precisava ver a alegria dele tomando aquela sopa, que a velha caprichava no tempero, com cebola, alho, tomate, e tinha sempre um pedacinho de paio. Isso nunca faltou. Hoje eu fico pensando naquele crioulão de quase dois metros, rindo e feliz, tomando sopa, só com as suas letrinhas J e V.
Papai era lustrador de profissão. Ele mesmo preparava o verniz com a goma-laca asa de barata, a cola de madeira e o breu. Fazia no fogão lá em casa mesmo. Minha mãe vivia brigando por causa do cheiro. Era horrível. Depois que inventaram esse negócio de envernizar com pistola ou verniz sintético, e qualquer um passou a ser lustrador, aí a coisa apertou. Não havia mais quase trabalho. Foi uma pena. O velho era brilhante. Gostou dessa, doutor?
Às vezes eles mandavam eu comprar qualquer coisa. Sabe como é, o barraco era pequeno: cozinha, sala, quarto, tudo junto. Naquele tempo a barra era pesada, não era essa moleza de tijolo e telha, era caixote e zinco mesmo. Outro dia vi em uma revista no barbeiro que os bacanas agora também têm apartamentos assim, quarto, mesa, cama, armário, latrina, tudo junto. É um tal de lófiti. Não sei por que os ricos têm essa mania de imitar a gente... A gente faz por necessidade.
Como eu estava dizendo, mandavam eu comprar vela, sabão e querosene. Quando tinha querosene, que era mais longe, eu desconfiava, me demorava mais ainda e aí eles tinham mais tempo, não é? O doutor está me entendendo...
Vou lhe dar mais uma do meu pai. Ele nunca soube a diferença entre um pé de alface e um de couve; entre uma dália e uma margarida. Não é que ainda assim conseguiu que arranjassem para ele um emprego de jardineiro no quartel de São Cristóvão? Lábia e lero é com ele mesmo. Ainda bem que lá não tinha flores nem horta. O trabalho era cortar a grama do campo de futebol, fazer as beiradas, os cantinhos e os arremates nos outros gramados. Isso, inteligente, ele aprendeu logo.
A grana não era a mesma de antes, mas sabe como é, não é, doutor, pouco com Deus é muito. E depois era garantido, tinha segurança. Como milico gosta de grama, doutor! Era tudo verdinho, às vezes ele me levava lá. Mas olha só, meu pai sempre foi vaidoso, ia para o trabalho todo embecado, que minha mãe fazia de tudo para ele ficar bonito. Terno branco só tinha um, mas sempre muito bem lavado e passado. A velha caprichava no tanque, na goma e no ferro de carvão, e lá ia ele todo elegante. Chegava no quartel, tirava o terno e o sapato bico fino, colocava o macacão e o tamanco, e já pra luta!
Ele tinha um armário com cadeado e deixava tudo lá, guardado. Trabalhava de sol a sol com aquela máquina manual de cortar grama, aquele tesourão e uma pequena enxada de mão, para fazer as beiradas e os cantinhos.
À tardinha, tomava seu banho, ia ao armário, abria o cadeado, e saía todo bem vestido novamente. Mas não é que tem sempre alguém invocando com a cara da gente! Um dia ele ouviu um papo de que um novo capitão, um branquelo de merda, teria comentado que esse tal de Jorge Veneno era muito metido a besta, que esse negócio de jardineiro andar de terno e gravata não era coisa que o Exército deveria permitir.
Disse também umas outras coisas que fizeram o velho sentir que iria dançar logo, logo. O quartel inteiro já comentava a antipatia do capitão pelo meu pai, quando um dia... Eu estou lhe enchendo o saco, doutor? Se quiser eu paro.
Não? Então, como eu ia lhe dizendo, um dia o capitão, ao chegar ao quartel, depois de responder à continência do sentinela, andou uns quatro ou cinco passos e caiu fulminado. Morto, mortinho da silva; colapso cardíaco, doutor. Bateu com as dez.
No dia seguinte ao acontecido, meu pai demorou a voltar e, ao chegar em casa, estava muito suado, pois vinha carregando um embrulho enorme. Quando abriu em cima da mesa, mamãe quase deu um ataque e gritou, Jorge, tira isso daqui! Sabe o que tinha dentro, doutor?
Imagens de Exu, de Nanan Buruquê, de Xangô, de Iemanjá e da sua mãe Olokum, de Ogum Xoroquê, o Seu Tranca-Ruas, de Omulu e do Zé Pelintra, por quem meu pai tinha uma especial simpatia, acho que mais pela elegância do que pela fé. Também lamparinas, folhas de papel crepom vermelhas e pretas, fogareiro de barro, tigelas, uns galhos de andiroba, umas velas grossas e outras finas, caixas de fósforos, charutos, uns ferros e uns saquinhos com uns pós estranhos.
Nós somos pobres e pretos, doutor, mas os velhos são tementes a Deus. Lá em casa não tem nada disso de macumba, não. Houve uma época em que mamãe tinha muita dor de cabeça. Minha tia disse que ela estava com “encosto”, que ela era médium e precisava se desenvolver. Pra quê!? Mamãe ficou um tempão sem falar com ela. Mamãe foi, bem dizer, criada por uns alemães que nunca quiseram saber dessas coisas. Depois que o velho explicou tudo a ela, foram dormir.
Dia seguinte, papai, bem cedinho, mais cedo que nos dias comuns, acordou, pegou tudo, embrulhou de novo e levou para o quartel. Aí, dentro do seu armário, fez um gongá caprichado. Arrumou os santos, as tigelas, as velas, as plantas, a lamparina, tudo de modo a parecer um canjerê. Feito o serviço, passou, daí em diante, a esquecer, de vez em quando, de trancar o cadeado...
Sabe como é, não é, doutor? Se hoje todo mundo já bisbilhota tudo, imagina antigamente, no tempo da revolução? E ainda por cima, dentro do quartel do exército! O velho nunca mais foi trabalhar de terno nem de sapato bico fino. O armário não era grande, e depois que virou gongá, não cabia mais sua roupa. Também por um pouco de receio. Acho que ele não queria misturar a roupa que usava com aquelas autoridades.
Resultado: os soldados, sargentos, capitães e o próprio comandante passaram a ter o maior respeito pelo meu pai. Agora eu lhe pergunto, isso é ou não é malandragem? O que é que o filho de Jorge Veneno, um cara como esse, foi fazer com aqueles merdas daqueles ladrõezinhos?
O filho da minha irmã, meu sobrinho. Ah, não lhe falei. Por conta daquelas compras que eu fazia, principalmente a do querosene, acabei ganhando uma irmã, que agora tem esse menino. Mas os tempos estão mudados, doutor, o garoto, com seus seis ou sete anos, logo enjoou de ajudar a avó a catar as letrinhas. Prefere ver filme de monstro na televisão, não sei qual é a graça. Eu não moro mais com eles, mas mamãe ainda está lá, velhinha, mas está.
Ainda este ano, no aniversário do velho, eu fui. Ele estava todo prosa, com uma camisa branca nova presenteada e engomada pela velha. O bolo do parabéns foi à tarde. Ela não faz tanto a sopa, como fazia antigamente, mas o aniversário não deixa passar
Nem minha mãe nem o velho percebem e, como o senhor sabe, o que os olhos não veem o coração não sente, não é, doutor? Hoje, papai está aposentado. Não usa mais terno branco nem sapato de bico fino. Vive de pijama e chinelo. Sai às vezes, toma sua cervejinha, joga sueca com os amigos e mais não faz. Dorme cedo.
De vez em quando, vai ao quartel abraçar os velhos amigos. Todo mês, lá pelo dia cinco, chega à casa dele um soldadinho. Leva, dentro de um envelope, com um bonito emblema verde e amarelo, escrito por fora, Ao Senhor Jorge Veneno, uma graninha. Deixa sempre lembranças em nome do comandante e de todos do quartel.
Meu cunhado agora é quem corta a grama.
O gongá ainda está lá.
Publicado em "Café e Bar Ponto Chic", Editora Bertrand Brasil.
Yvonne Dimanche
CORRESPONDENTE
Vi na televisão um documentário chamado "Roube um lápis para mim". Trata-se da história verídica de um casal de judeus holandeses (Jacob e Inaka Polak) que se conheceu na Segunda Guerra Mundial. Ele, feio, careca, pobre, contador, dez anos mais velho do que ela e casado com uma mulher instável. Inaka era bonita, rica e namorava um rapaz que não chegou a viver muito tempo. Em que pese o grande drama vivido por essas pessoas e suas famílias, poderíamos dizer que eles tiveram alguma sorte, visto que ficaram em um campo que não era tão pavoroso como os demais e as mortes não foram muitas.
Um romance entre um homem casado e uma jovem solteira é assunto tabu até mesmo nos dias de hoje. Eles se conheceram em uma festa e ele se apaixonou perdidamente por ela. As famílias de ambos foram enviadas para esse tal campo em 1943 e todos ficaram no mesmo alojamento. Como ela conseguiu ter uma tarefa burocrática, não foi difícil ter acesso a papéis e lápis. Então os dois resolveram trocar cartas que são simplesmente magníficas e belas, principalmente as dele. Essas cartas ficaram com eles, só que as dela, justamente no dia de sua libertação, caíram na água e ficaram estragadas, só sobraram dez.
Bom, milhões de desgraças depois, ele foi transferido para Bergen Belsen e ela para outro campo cujo nome não me recordo. Acabaram-se as cartas e os dois comendo o pão que o diabo amassou. Até que a guerra acabou e ambos voltaram para Amsterdam. Em 1946, eles se casaram e realmente foram felizes para sempre. Tiveram filhos, netos e bisnetos e até 2007 ainda estavam vivos. Ela, uma senhora extremamente linda, e ele continuou mais feio do que a necessidade, porém charmosíssimo. O amor deles nunca acabou e me deixou sensibilizada demais.
O que eu achei uma maravilha nessa história é que o desejo de realizar esse amor, tão logo acabasse a guerra, foi o que motivou os dois a continuarem vivos. Tiveram alguma sorte no primeiro campo, se é que se pode chamar isso de sorte, mas posteriormente sofreram demais com doenças intermináveis e tudo mais que vocês já tiveram oportunidade de tomar conhecimento.
Esse romance representou para mim um hino ao amor e à superação humana. Enquanto algumas pessoas desistem de viver por conta de uma paixão que foi embora ou porque o seu time foi rebaixado para a segunda divisão, outros fazem opção pela vida e todo o seu esplendor. Foram humilhados e torturados pelos nazistas, mas sempre conservaram dentro de si a sua dignidade e vontade de viver. Eles derrotaram os bárbaros e não se permitiram serem coitados. Conseguiram ser felizes, sabe Deus como.
Quando tomo conhecimento de histórias do tipo, chego à conclusão que não adianta procurar Deus ou satisfação em religiões, ideologias, dinheiro, poder ou seja lá o que for. Tudo que existe de bom no mundo está dentro de nós mesmos e ninguém tem condições de nos tornar felizes, caso não tenhamos vontade de ser felizes. Obrigada, Jacob! Obrigada, Inaka!
Durante alguns anos, Yvonne publicou um dos melhores blogs que conhecemos, o BlogGente. Hoje, dedica-se a outras atividades e é correspondente do Jornal da Lua em Guarapari, Espírito Santo.
ANTES do casamento:
Ele: - Finalmente! Custou tanto esperar por este momento.
Ela: - Você quer que eu vá embora?
Ele: - Não! Nem pensa nisso.
Ela: - Você me ama?
Ele: - Claro! Muito e muito!
Ela: - Alguma vez você já me traiu?
Ele: - NÃO! Porque ainda pergunta?
Ela: - Me beija?
Ele: - Evidente! Sempre que possível!
Ela: - Você seria capaz de me bater?
Ele: - Você está doida! Não sou desse tipo de homem!
Ela: - Posso confiar em ti?
Ele: - Sim.
Ela: - Querido!
DEPOIS do casamento: leia de baixo para cima.
Brotinho Indócil
A insistência daqueles chamados já estava me enchendo a paciência (isto foi há alguns anos). Toda a vez era a mesma voz infantil e a mesma teimosia:
– Mas eu nunca vou à cidade, minha filha. Por que é que você não toma juízo e não esquece essa bobagem...
A resposta vinha clara, prática, persuasiva:
– Olha que eu sou um broto muito bonitinho... E depois, não é nada do que você pensa não, seu bobo. Eu quero só que você autografe para mim a sua Antologia Poética, morou?
Morar eu morava. É danadamente difícil ser indelicado com uma mulher, sobretudo quando já se facilitou um bocadinho. Aventei a hipótese:
– Mas... e se você for um bagulho horrível? Não é chato para nós ambos?
A risada veio límpida como a própria verdade enunciada:
– Sou uma gracinha.
Mnhum – mnhum. Comecei a sentir-me nojento, uma espécie de Nabokov avant la lettre, com aquela Lolita de araque a querer arrastar-me para o seu mundo de ninfeta. Não resistiria.
– Adeus. Vê se não telefona mais, por favor...
– Adeus. Espero você às quatro, diante da ABI. Quando você vir um brotinho lindo, você sabe que sou eu. Você, eu conheço. Tenho até retratos seus...
Não fui, é claro. Mas o telefone no dia seguinte tocou.
– Ingrato...
– Onde é que você mora, hein?
– Na Tijuca. Por quê?
– Por nada. Você não desiste, não é?
– Nem morta.
– Está bem. São três da tarde; às quatro estarei na porta da ABI. Se quiser dar o bolo, pode dar. Tenho de toda maneira que ir à cidade.
– Malcriado... Você vai cair duro quando me vir.
Desta vez fui. E qual não é minha surpresa quando, às quatro e ponto, vejo aproximar-se de mim a coisinha mais linda do mundo: um pouco mais de um metro e meio de mulherzinha em uniforme colegial, saltos baixos e rabinho de cavalo, rosto lavado, olhos enormes: uma graça completa. Teria, no máximo, treze anos. Apresentou-me sorridente o livro:
– Põe uma coisa bem bonitinha para mim, por favor?
E como eu lhe respondesse ao sorriso:
– Então, está desapontado?
Escrevi a dedicatória sem dar-lhe trela. Ela leu atentamente, teve um muxoxo:
– Ih, que sério...
Embora morto de vontade de rir, contive-me para retorquir-lhe:
– É, sou um homem sério. E daí?
O "e daí" é que foi a minha perdição. Seus olhos brilharam e ela disse rápido:
– Daí que os homens sérios podem muito bem levar brotinhos ao cinema...
Olhei-a com um falso ar severo:
– Você está vendo aquele Café ali? Se você não desaparecer daqui imediatamente, eu vou àquele Café, ligo para sua mãe ou seu pai e digo para virem buscar você aqui de chinelo, você está ouvindo? De chinelo!
Ela me ouviu, parada, um arzinho meio triste como o de uma menina a quem não se fez a vontade. Depois disse, devagar, olhando-me bem nos olhos:
– Você não sabe o que está perdendo...
E saiu em frente, desenvolvendo, para o lado da avenida.
1966
in Para uma menina com uma flor (crônicas)
in Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor"
Tostão
O Brasil fez o melhor primeiro tempo e o pior segundo tempo da Copa. No primeiro, poderia ter feito mais de um gol. No segundo, quando perdia por
O Brasil, que fez, durante os quatro anos sob o comando de Dunga, um grande número de gols em jogadas aéreas, levou dois gols nesse tipo de lance.
O Brasil, que procurou, durante quatro anos, um lateral-esquerdo, levou dois gols em jogadas que se iniciaram por esse setor.
O Brasil, que sempre teve um armador pela direita para ajudar Maicon (Elano ou Daniel Alves), nunca teve um armador, pela esquerda, para ajudar Michel Bastos. Desse lado, começaram as duas jogadas dos gols.
O Brasil, que tinha uma grande preocupação com as faltas violentas e as expulsões de Felipe Melo, teve o jogador expulso quando o time perdia e precisava reagir.
O atleta de cristo Felipe Melo, que deu um excelente passe para o gol do Brasil, escreveu
Foi uma repetição da Copa de 2006, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final para a França. Lembro que, na época, assisti à partida ao lado de Clóvis Rossi, perplexo com a atuação de Zidane. Dessa vez, não havia Zidane, mas tinha Sneijder e Robben.
Não é só o Brasil que tem craques. Dunga disse, após o jogo, que trocou Luís Fabiano por Nilmar para aproveitar sua velocidade. No momento em que o Brasil perdia e tinha de pressionar e usar as jogadas aéreas, seria muito melhor um ótimo cabeceador que um velocista.
As virtudes do Brasil, bastante conhecidas antes da partida, como o excelente contra-ataque, as jogadas aéreas, a qualidade de seu goleiro (falhou no gol) e de seus defensores, não acabaram por causa de uma derrota. As deficiências do Brasil, como a falta de mais talento na lateral esquerda e no meio-campo, e o despreparo emocional de Felipe Melo para disputar uma Copa, ficaram ainda mais evidentes.
Como em 2006, o Brasil foi eliminado por um time do mesmo nível técnico. Não houve surpresa. Temos de valorizar o adversário. Precisamos terminar com nossa prepotência de achar que o Brasil é sempre melhor.
Publicado no Superesportes em 3 de julho de 2010
Ele dizia ter 20 anos, mas parecia menos, pois era franzino, muito magro e baixinho. Assim que abri a loja, ele apareceu e perguntou se tinha lá algum disco de Michael Jackson. "Tem alguns", eu disse. "Qual você procura?"
"Na verdade, nenhum, pois tenho todos. Só quero saber, pois, na hora do almoço, posso vir aqui e ouvir um pouquinho?"
"Claro, pode vir", eu disse.
E ele sempre aparecia lá, escolhia uma faixa e começava a dançar, daquele jeito que seu ídolo tinha imortalizado. Sorria, dizia que era o máximo e depois voltava ao trabalho de limpar a galeria.
Durante quatro anos, ele cumpriu esse ritual de aparecer e pedir pra ouvir Michael Jackson.
Depois, fechei a loja e nunca mais voltei lá. A notícia da morte de Jackson fez com que eu me lembrasse dele e de outras figuras que passavam por lá. Tinha um que andava com uma foto do Bono no bolso. Ele parava qualquer pessoa, na galeria ou dentro das lojas, tirava a foto do bolso e perguntava: "Não sou parecido com ele?" E, se a pessoa demonstrava alguma dúvida, ele ficava de perfil e perguntava novamente: "Assim, nessa posição, não parece?"
Também passavam por lá o Elvis jovem e o Elvis quarentão. Explico: um imitava o rei do rock nos anos 50, com topete, enquanto o outro era gordo e usava um cavanhaque enorme, além de tentar imitar o modo de andar de Elvis, tudo muito bem estudado.
Os clientes, em geral, eram fãs que imitavam seus ídolos. Um imitava John Lennon, outro o Jim Morrison, tinha também Jimi Hendrix, James Brown...
Um dia, percebi uma grande aglomeração no corredor e fui ver o que era. Tomei o maior susto, pois podia jurar que era o próprio Michael Jackson! O sujeito era alto, tinha uma daquelas roupas que Jackson vestia nos shows, igual a um uniforme militar, um tom de pele muito parecido com o astro que deixava de ser negro, também usava maquiagem, inclusive nos olhos, o cabelo com uma ponta escorrendo pela testa, um chapéu... Impressionante a semelhança!
O faxineiro estava lá, no meio da multidão. Pequenino, com seu uniforme cinza, sorria e observava o sósia. Quando tudo acabou, ele entrou na minha loja e disse:
"É bom a gente ter um ídolo, né?"
Por isso, dei como incerta a morte de Michael Jackson no título deste post. Quem tem um ídolo, vivo ou morto, sabe do que falo. Aquele pobre faxineiro, que morava longe e levava horas de ônibus pra chegar na galeria e voltar pra casa, tinha
Quando me lembrei dele, depois que soube da morte de Jackson, uma música invadiu meus pensamentos. Foi "Gente Humilde", de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Hollanda.
"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar"
1) A garota chega pra mãe, reclamando do ceticismo do namorado.
- Mãe, o Mário diz que não acredita em inferno.
- Case-se com ele, minha filha, e deixe comigo que eu o farei acreditar!
2) O homem leva um susto ao ouvir de sua cartomante:
- Em breve, sua sogra morrerá de forma violenta.
Imediatamente, ele pergunta à vidente:
- Violentamente? E eu? Serei absolvido?
3) Na delegacia, aparece um cidadão e diz que quer confessar.
O delegado pergunta:
- O que aconteceu?
E o homem: – Doutor, eu matei minha sogra!
- Bem, meu filho, você cometeu esse crime, mas devia estar muito alterado, não se importe, vá pra casa e descanse. Está tudo bem.
- Mas, doutor, eu enterrei a velha!
- Ah, meu filho, viu que boa alma você é? Enterrou a sua sogra e assim já evitou toda aquela burocracia.
- Doutor!!! Mas, quando eu estava enterrando, ela gritava que ainda estava viva!
- Ô meu filho, e você não sabe que toda sogra é mentirosa?
4) Um homem encontra seu amigo na rua e diz:
- Cara, você é igualzinho à minha sogra, a única diferença é o bigode!
O amigo fala:
- Ué, eu não tenho bigode!
- Mas minha sogra tem.
5) Um cara foi à delegacia e disse:
- Eu vim dar queixa, pois a minha sogra sumiu.
O delegado disse: – Há quanto tempo ela sumiu?
- Duas semanas – respondeu o genro.
- E só agora é que você me fala?
- É que custei a acreditar que eu tivesse tanta sorte!
6) A sogra do cara morreu e lhe perguntaram:
- O que fazemos? Enterramos ou cremamos?
- Os dois! Não podemos facilitar!
7) O cara voltava do enterro de sua sogra, quando, ao passar por um prédio em obras, um tijolo caiu lá de cima e quase acertou a cabeça dele.
O homem olhou pra cima e gritou:
- Já chegou aí, sua desgraçada?! E ainda continua com má pontaria!
8) – Querido, onde está aquele livro "Como viver 100 anos"?
- Joguei fora!
- Jogou fora? Por que?
- É que sua mãe vem nos visitar amanhã e eu não quero que ela leia essas coisas!
9) Na sala de espera de um grande hospital, o médico chega para um cara muito nervoso e diz:
- Tenho uma péssima notícia para lhe dar. A cirurgia que fizemos em sua mãe…
- Ah, ela não é minha mãe… É minha sogra, doutor!
- Neste caso, então, tenho uma boa notícia para lhe dar!
10) O cara encontra o amigo e fala:
- Minha sogra morreu e agora fiquei em dúvida, não sei se vou trabalhar ou se vou pro enterro dela… O que é que você acha?
E o amigo: – Primeiro o trabalho, depois a diversão!
11) O sujeito bate à porta de uma casa e, assim que um homem abre, ele diz:
- O senhor poderia contribuir com o Lar dos Idosos?
- É claro! Espere um pouco que eu vou buscar a minha sogra!
12) Qual a punição por bigamia?
Resposta: duas sogras.
13) A mulher comenta com o marido:
- Querido, hoje o relógio caiu da parede da sala e por pouco não bateu na cabeça da mamãe…
- Maldito relógio! Sempre atrasado!
Tahiana Andrade
BLOGUEIRA CONVIDADA
Como mulher, confesso que não entendo e nem gosto muito de futebol. Todavia, parece que algumas coisas nos são ensinadas por osmose e, no caso do brasileiro, futebol é uma delas!
Muito se falou sobre a tal convocação de Dunga para a Copa de 2010 e ainda há muito para ser falado. Muita gente esperava que Neymar estivesse na lista. Há quem diga que Dunga deveria ter dado uma segunda chance para Adriano, e o mundo inteiro (exagero?) tem comentado e criticado a ausência de Ronaldinho Gaúcho na lista...
Sinceramente? A- D- O- R- E- I!!!
Não é porque não entendo de futebol que não posso entender de comportamento dos jogadores, certo?
Na última Copa, em 2006, o Brasil perdeu feio! O time estava repleto de 'super-jogadores'... 'Estrelas' do futebol nacional. Em campo, os jogadores mais famosos, mais invejados, mais cotados, mais bem pagos. Em cena, uma Copa que marcou um fracasso futebolístico para o Brasil, uma derrota antes mesmo das semifinais. O time de estrelas não funcionou. Torcedores tiveram sua expectativa frustrada!
Sabe por quê?
Porque essas 'estrelas' do futebol não precisam mais mostrar serviço para o futebol. Eles já possuem títulos, fama e, o mais importante, grana. Quando se convoca para a seleção jogadores menos famosos, menos ricos, menos orgulhosos (contrariando todas as opiniões de quem diz entender do esporte), proporciona-se a eles a motivação de se tornarem estrelas do futebol. A fome de bola, de drible, de gol, de vitória será, provavelmente, maior. Não há o orgulho da fama nem o desprezo pelo dinheiro. Ao contrário: há o desejo de ser o responsável por trazer para o Brasil o título de hexa!
Como eu assumi no início do post, não sei realmente muita coisa sobre futebol, não entendo quem joga bem ou não, mas entendo de motivação, de comportamento, de maturidade. Talvez tenha sido a falta de motivação de Ronaldinho Gaúcho o que mais contribuiu para a derrota do Brasil na última Copa. Provavelmente a depressão e a inconstância de Adriano (eu o diagnosticaria como ciclotímico, rs) não deram a ele o merecimento de ser convocado. Possivelmente, Neymar, em suas entrevistas, deu a Dunga a percepção de que ali, brevemente, se manifestaria uma personalidade orgulhosa, prepotente e permanente em sua imaturidade de 18 anos!
Sinceramente, torço pelo Brasil, mas não me importo muito se vamos ganhar a Copa ou não. Esse é o único momento em que o brasileiro demonstra ufanismo pelo seu país e, por causa disso, se esquece das eleições que ocorrem no mesmo ano. Também não me interesso por ver milionários ficando ainda mais milionários simplesmente por correrem atrás de uma bola enquanto ficamos desesperados em frente à televisão, torcendo e gritando, com as nossas contas a pagar nas mãos.
Brasileiro dá mais visibilidade para o futebol do que o merecido e, independente de ser homem ou mulher, há muito mais coisa para torcer em nosso país. O problema é que os convocados, nós, os brasileiros, costumamos ficar parados em campo, vendo a bola rolar, enquanto os milionários tornam-se ainda mais milionários às nossas custas!
Tahiana Andrade pode ser encontrada aqui.
Real Morte
BLOGUEIRO CONVIDADO
Minha opinião sobre a humanidade não é das melhores. Sempre digo que se a Terra fosse um imenso corpo humano eu seria o Activia que aceleraria a saída de vocês. Deduzam o resto.
A raça humana é patética, frágil, iludida, insignificante, pusilânime, babaca, sem noção, e só digo isso porque estou de bom humor hoje. Se eu desse a real, ninguém aguentaria o tranco e cortaria os pulsos agora mesmo, o que nunca considero uma má idéia, desde que vocês não façam isso na hora da novela. Porém, para suportar tamanha falta de importância e sentido na vida, a humanidade desenvolveu um mecanismo de defesa que funciona até certo ponto: a vaidade.
A mais humana das qualidades, e justamente por isso uma das piores, a vaidade é capaz de torná-los mais sensíveis, mais divertidos, mais ridículos, e eu estaria cagando para ela caso não afetasse meu trabalho ocasionalmente. Sim, porque somente a vaidade explica a preocupação exagerada de alguns de vocês em escrever frases de efeito em cartas ou bilhetes de suicídio, algo que me irrita MUITO. Porque neguinho passa a vida inteira escrevendo no Orkut coisas do tipo “Genti, çaí cuns miguxos onti e foi di-maizzz!!!!” e na hora que vai empacotar vem querer dar uma de que sabe escrever bonito? Não fode! Pegue um post-it e rascunhe um “fui!” pra ninguém perceber seu português meia-boca e estamos combinados.
Quando o cara começa a demorar demais na carta de despedida, eu chego até a me intrometer antes do momento devido. Foi o caso de um famoso presidente brasileiro.
— Chega, Getúlio, já estamos há cinco horas nisso. Largue essa carta.
— Não antes de eu escrever minha última grande frase.
— Não precisa, tá bom assim.
— Não dá. Eu não vou me matar antes de escrever uma frase final perfeita.
— Haja saco. Onde foi que você parou?
— Nessa frase aqui ó: “Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço minha morte.”
— Beleza. Tá lindão.
— Tá mesmo?
— Tá. Não escreve mais nada que estraga.
— Jura?
— Juro. Me arrepiei. Agora pegue esse revólver e se mate.
— Não sei, não estou satisfeito ainda. Que tal se eu fechasse a carta com “serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade”?
— Melhor ainda!
— Acha mesmo?
— Acho. Agora SE MATE!
— Não, ainda não. Ainda tenho a impressão de que não é a frase ideal…
— Mas que merda de frase você quer escrever?
— Uma que valha a pena. Meu medo é abandonar a vida e ninguém se lembrar, não ficar na História.
— Então escreva isso.
— O quê?
— Que você sai da vida para entrar na História.
— Será? Mas não soa um pouco piegas?
— Soa como brega mesmo. Mas morto todo mundo perdoa. Pode escrever.
— “Saio da vida para entrar na História.” Taí, gostei.
— Ótimo.
— Eu gostei muito.
— Que bom.
— Sério, eu adorei, gostei demais.
— Perfeito.
— Ficou tão bom que me fez repensar o meu ato, me deu até ânimo de continuar vivendo. Acho que não vou me matar mais.
— AH, NÃO, MAS NEM FUDENDO!
Eu peguei o revólver e… bem, o resto vocês já sabem. Até hoje muita gente não entende porque Getúlio Vargas deu um tiro no peito e não na cabeça, mas eu nem me preocupei com esse detalhe na hora. Eu precisava botar isso pra fora. Ufa!
Real Morte pode ser encontrado aqui. Se você tiver coragem de ir lá, é claro.