Regina Lewinsky
CORRESPONDENTE
- Vai, vai, vai ...Caminha, ômi! Deixa de ser frouxo e num vai pensando que eu vou ficá cum pena de tu não, que eu num vô, visse?
- Betinha, eu vou voltar, Betinha!.. Juro por Deus que eu num tô aguentando esse sol quente na minha cabeça ... Ai, ai, ai, ai!
- Apoi eu quero vê tu voltá ... Volta, pa tu vê, volta! Tu volta um carai, que tu vorta! Quando eu disse a tu que num bebesse onti porque eu queria vim pro Galo da Madrugada e a gente tinha que se acordá cedo, o que foi que tu fizesse? Ficasse foi mangando de mim, num foi? Apoi, intão, agora aguenta a ressaca debaixo do sol e do frevo! Num quero nem sabê!
- Ôxe! E tu queria o quê, mulé? Como era que eu podia não beber, se ontem foi o dia da saída do Bloco “CARANGUEJO SAI”, que é lá da comunidade do mangue aonde nós mora? Logo eu, que sou o presidente do bloco, num ia sair não, é?
- E precisava tu encher o c... de cana? Tomasse uma ou duas cervejinha, tava bom demais ... Mas não! Tinha que chegar c’as aprecata procurando caminho, feito um balai de bosta! E além do mais, eu preveni: num enche a cara não, porque, com tu ou sem tu, eu vou pro Galo de todo jeito!
- Eu sei, mas agora eu não tô em condições de acompanhar o Galo, de jeito nenhum, porra! Tô aqui todo me tremendo, com dor de barriga, dor nas pernas, zonzo e a minha cabeça parece que vai explodir... Eu não vou não! Quero ver quem vai me obrigar!
- Ah, não vai não? Então fica aí, ou volta pra casa a pé, porque o teu dinheiro tá aqui comigo e eu não vou te dar ele de jeito e maneira, que é pra tu não ir se misturar com aquele bando de quenga que tava lá na barraca do fim da rua quando a gente passou. Pensa que eu não vi não, é? Eu tô ficando é veia, não é besta, não!
- Que quenga, o quê, mulé! Aquilo é as menina lá do meu trabalho, vixe! Essa mulé é muito desbocada ... Nem conhece as menina e já tá xingando elas! Betinha, sem brincadeira: Eu não tô conseguindo nem me pôr em pé ... Vê como eu tô suando, feito tampa de chaleira! Vamo pra casa e mais tarde, quando eu ficar bom, a gente sai no Homem da Meia Noite!
- O QUÊÊÊÊÊ??? Desde que a gente se conhece, tu já visse eu passá um Carnaval sem acompanhá o GALO DA MADRUGADA? Nem quando eu tava buxuda eu deixei de vir, agora eu vou deixá só porque tu enchesse a cara? É ruim, hem?
- Sabe de uma coisa? Eu tô vendo que, nessa conversinha, a gente já tá quase atravessando a ponte, o Galo já entrou na Rua da Concórdia e daqui a pouco a multidão arrasta a gente de um jeito, que eu não vou conseguir mais sair. Eu não dou mais um passo. Pronto!
- Ah, é? Então, meu nêgo, plante-se aí, que nem uma estáuta, porque eu vou cair na folia e não sei a hora ou o dia que chego... Ah! E tem mais: se prepare pra levar gaia, porque eu não sou mulher de pular sozinha!
E lá se foi Betinha, juntar-se à irreverente turba, entoando, em alto e bom tom, o chamado irresistível a qualquer pernambucano, às primeiras horas do Sábado de Zé Pereira, pelas ruas do centro do Recife:
“EI, PESSOAL, EI, MOÇADA!
CARNAVAL COMEÇA
NO GALO DA MADRUGADA!!!"
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