lobo e lua

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28.2.10

Desculpas pra não estudar

Tamires B.
BLOGUEIRA CONVIDADA


Arrumei, o dia todo, desculpas pra não estudar...

Será que por causa disso serei a vergonha da família?
Serei apontada como um mau exemplo para as crianças do prédio, que jogarão bombinhas de São João em mim?

Talvez esse seja meu destino, por culpa dessas malditas desculpas! (O fato de que EU as inventei deve ser ignorado)

E quais desculpas seriam responsáveis pela perda de um dia preciosíssimo de estudo para mim, uma pessoa que teve, durante todo o ano, cada minuto como sendo o último em que poderia absorver um pouco de conhecimento inútil à existência, mas essencial a provas sem sentido?

Acuso essas desculpas aqui:

1. De manhã, meu QI é terrivelmente reduzido.

Como uma pessoa conhecedora do meu próprio metabolismo, percebo que 4 horas a mais no conforto de minha cama são essenciais para que eu possa obter um aproveitamento máximo das minhas capacidades, mais tarde, beeem mais tarde. Então, para que levantar às 6 se eu posso levantar às 11? Opa, na verdade 5 horas a mais, e não 4, são essenciais.

2. Olha, não vejo esse amigo há anos...Que mal faz conversar 10 minutos?

Tem quantos anos que não vejo você on? Provavelmente, apenas algumas semanas... Mas essa ausência insuportável de um colega, com quem o máximo de diálogo que mantive envolvia o empréstimo ou não de uma borracha, é suficiente para adiar em uma hora o maravilhoso encontro de dona T. com os livros.

3. Minha amiga terminou uma prova. Agora devo ligar para mostrar solidariedade.

Essa é minha preferida. Uma desculpa envolvida em paradoxos... Por um lado, você se sente uma pessoa melhor, porque está sacrificando seu tempo precioso de estudo com o bem-estar de outrem... Por outro, de 5 em 5 minutos você olha para o relógio e lembra que ela acabou de terminar uma prova e não tem que estudar mais nada, enquanto você... Bem, você tem uma pilha de cadernos fechados te esperando.

4. Eu tenho que cuidar de mim mesma.

Muitas pessoas dizem que, para evitar a loucura, devemos reservar, entre as horas de estudo, um momento para nós mesmos. Arrumar o cabelo, ir à praia, fazer as unhas. Mas isso não vale, NÃO vale, quando você não estudou absolutamente nada. Essa desculpa, além de me levar 50 minutos no salão, me rendeu a próxima desculpa da lista.

5. Vou esperar as unhas secarem antes de começar a estudar.

Mais genericamente falando, essa é a desculpa do tipo: vamos usar algo como marcador de tempo para dar início aos estudos. Algumas pessoas usam o final do telejornal ou o começo do Programa do Faustão como sinal verde para começar a labuta. Eu apostei na secagem das unhas, como se digitar fosse mais seguro para a integridade do esmalte que virar páginas. Vai entender!

Depois dessa última, que foi a que demorou mais, eu acabei desistindo, porque já era tarde... Agora estou me sentindo terrivelmente culpada... Mas não o suficiente pra usar o tempo que gastei escrevendo essa lista e ir decorar fórmulas de PA e PG.

Tomara que eu tome jeito, antes que seja tarde demais.

Tamires B. pode ser encontrada aqui

22.2.10

O niver de Kamilla Barcelos

Pouco depois que o Jornal da Lua chegou à blogosfera, encontramos um pequeno mas muito interessante grupo de blogueiros que logo convidamos para fazer parte de nossa redação. Lá estavam, por exemplo, Maristela Bairros, Patty Alves e Yvonne Dimanche, que, infelizmente, encerraram suas atividades.

Porém, novos blogueiros foram surgindo, como Regina Simões, Nathália Esthevlana (nossa colunista anti-social), Tamires B. (que fará sua estreia aqui no próximo post), Celso Japiassu, Dama de Cinzas, Dani Pedroza e Kamilla Barcelos.

Entre tantos blogueiros, o que nos fez optar pelos citados? E a resposta é simples: todos são grandes humoristas, sabem como poucos usar a ironia e o sarcasmo para refletir sobre uma realidade que raramente nos agrada.

Esta semana, homenageamos a pequena grande humorista Kamilla Barcelos. Que conhecemos desde os seus 16 anos, em 2007. No dia 26 de fevereiro, nossa colaboradora e amiga completa 19 anos. Descobrimos a data por acaso, através do Twitter, anteontem, quando ela deixou registrado que não queria festa de aniversário, mas a mãe insistia em fazer um bolo e convocar a galera.

Acompanhamos os posts de Kamilla desde 2007. E o que podemos dizer é que seu humor continua refinado. É sempre um prazer ir ao Mundo Efêmero e ler suas opiniões sobre os mais diversos assuntos. Porque a realidade é filtrada por uma mente inquieta, observadora, mas que não se abate diante das dificuldades.

Ao contrário, as dificuldades parecem servir de combustível para Kamilla. Que examina a situação e nos mostra o que pensa sobre tudo em posts recheados de um humor originalíssimo.

Por isso, mesmo que ela não queira soprar velinhas, fazemos aqui nossa festa particular para Kamilla, uma blogueira de primeira, que temos a sorte de contar em nosso grupo de colaboradores. Viva a Kamilla! Vivaaaaaaaaaaa!!!!!!!!

14.2.10

Evoé, Baco!

Celso Japiassu
BLOGUEIRO CONVIDADO


A cidade se agita em datas de festas. Natal e Carnaval são os picos desse entusiasmo coletivo que se mistura ao calor do verão para resultar no confuso tempo de compras e de alegria, ambas obrigatórias.

Compras obrigatórias no Natal, alegria obrigatória no Carnaval.

Num, o comércio festeja vendas recordes; no outro, a indústria de bebidas e de outras drogas menos santas superam suas próprias previsões. A indústria de preservativos também festeja o Carnaval.

O trânsito pesado reflete o estado de espírito da cidade. As pessoas saem à rua e se transformam em povo e o povo se transforma em blocos que exalam odor de suor e de cerveja. Cada bairro tem mais de um desses grandes aglomerados humanos inquietos que arrastam multidões em cortejos absurdos.

O ruído produzido por um desses blocos é superior em volume ao estrondo de um trovão sobre nossa cabeça, só que não é passageiro como um trovão.

Suvaco do Cristo, Vem ni mim que sou facinha, Xupa mas não baba, Imprensa que eu gamo, Mulheres de Chico, Se não quer me dar…me empresta, Cutucano atrás, Se me der eu como, Rola preguiçosa, Spanta neném, Berro da viúva, Eu sou eu e jacaré é bicho d’água, Nem muda nem sai de cima, Bafo da onça, Bloco dos cachaças, Bagunça meu coreto, Meu bem volto já, Concentra mas não sai, Empurra que pega, Barangal e Senta que eu empurro são alguns dos comportados e barulhentos blocos que desfilam pela cidade.

Evoé, Baco!

Celso Japiassu pode ser encontrado aqui

3.2.10

Flagrante cumplicidade

Dani Pedroza
BLOGUEIRA CONVIDADA

- E aí, doutora? Como está a minha situação?

- Você conhece o procedimento quase tão bem quanto eu. Quantas vezes já foi preso nas mesmas condições?

- Essa é a sétima vez.

- Pois então. Já sabe tudo o que vai acontecer, não?

- A senhora acha que demora muito a me soltar dessa vez?

- Eu vou primeiro conversar com o delegado, depois começo a fazer previsões.

- As coisas estão feias pro meu lado, né? Pode falar, doutora. A senhora sabe que sou macaco velho.

- Justamente por isso que não entendo você. Tantos anos nessa vida e ainda dá um mole desses?

- Doutora, a senhora pode ser advogada só escrevendo petições? Consegue ficar na segurança de seu escritório entre seus livros? Não tem que dar a cara a bater nas audiências? Se expor?

- E daí?

- E daí que cada profissão tem seus riscos. O risco da minha é a prisão. Faz parte.

- Desde quando estelionato é profissão?

- É a única coisa que sei fazer. É o que eu faço melhor do que os outros. Onde me sinto o melhor. E é o que paga meus desejos, meus vícios, meu sustento.

- Aptidão e satisfação.

- O que foi?

- Nada, só estava pensando alto. Continue.

- Pois é isso, doutora. A senhora usa seu talento e seu esforço pra conseguir sobreviver, eu faço o mesmo.

- Você só esqueceu de um detalhe. Todas as profissões têm uma função social. Elas servem de alguma forma pra contribuir com as outras pessoas, cada um se especializa em alguma coisa e oferece aos outros. Como se fosse um escambo de aptidões.

- Um o quê?

- Escambo, troca.

- Ah sim. Ouvi dizer que antigamente as pessoas trocavam o que plantavam com as outras. Um plantava milho, outro feijão, daí eles trocavam.

- Pois então. Hoje em dia, trocamos aptidões. Um sabe tratar de doentes, outro sabe construir casas, e cada um "vende" o que sabe fazer pra que todos vivam melhor.

- Entendi o raciocínio. Estelionatário não torna a vida de ninguém melhor.

- O que você faz é justamente prejudicar a vida em sociedade, à medida que você engana alguém pra ficar com o que é dele, além de causar um dano àquela pessoa, você gera uma sensação de insegurança e desconfiança nos outros, que começam a sentir que precisam se defender a qualquer custo porque podem ser as próximas vítimas. Isso cria toda uma desordem social, entende?

- A senhora tem razão. Eu não contribuo mesmo pra esse "meio social". Sabe por que, doutora? Porque ele também não me deu nada. Pra mim não existe mundo social, existe mundo cão, onde é cada um por si. Olha, doutora, não sou um cara ruim, sei reconhecer quando alguém me faz um favor. Mas eu não faço parte desse meio social, ele nunca fez nada por mim. E nem eu me sinto na obrigação de fazer alguma coisa por ele.

- Talvez seja principalmente por isso que anos de cadeia não conseguiram te ressocializar. Você nunca foi nem socializado. Mas eu ainda não entendo uma coisa. Como você se deixou pegar de novo?

- Doutora, o destino do estelionatário é a cana. Eu nunca quis juntar dinheiro. A senhora estuda, lê, fica cada vez mais instruída porque é essa a sua maneira de conquistar o seu lugar, de se fazer aceitar e respeitar pelos outros. Eu roubo pra comprar essas mesmas coisas.

- O seu discurso é muito bonito, mas há diversas formas menos prejudiciais a você mesmo e aos outros de conseguir o que quer.

- A sua, por exemplo?

- A minha, por exemplo.

- A senhora põe gente como eu na rua.

- Eu, não senhor. Eu ofereço a pessoas como você o direito de ter uma defesa competente. Há o Ministério Público pra tentar provar que você é culpado se assim entender. E, no fim das contas, quem decide é o juiz.

- O seu discurso é muito bonito, mas...

- rs... Você é muito bom na argumentação... Imagino que seja assim que você consegue enganar suas vítimas.

- Não somos tão diferentes quanto pode parecer à primeira vista, não é mesmo, doutora?

Dani Pedroza pode ser encontrada aqui.